Título: Banco Mundial fará doação inicial ao Fundo de Reconstrução do Haiti
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Fonte: O Globo, 15/01/2010, Mundo, p. 26

Bird coordenará iniciativa e aguarda a ajuda de países doadores

Surtiu efeito imediato a sugestão que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizera ao seu colega Barack Obama, na quarta-feira, de que Brasil e Estados Unidos mais a Organização das Nações Unidas (ONU) convocassem uma reunião de países doadores com o objetivo de arrecadar recursos para o Haiti. Obama cortou caminho. Antes de levar a proposta adiante, ele mandou um recado ao Banco Mundial (Bird) estipulando uma iniciativa que a sua presidência anunciou ontem: a criação do Fundo de Reconstrução do Haiti.

O Bird, que horas antes já havia liberado US$100 milhões para financiar o socorro imediato aos haitianos, informou que vai reunir uma outra quantia - de valor ainda não definido - que servirá como capital inicial para a empreitada. Ela serviria como uma espécie de padrão ou referência para as doações dos países.

- Por enquanto ainda não dá para calcular esse valor, pois é muito cedo para se ter uma ideia sólida das necessidades do Haiti. O importante, no momento, é acudir o governo local ajudando a minimizar a tragédia e também facilitando o trabalho de coordenação da ajuda humanitária - disse ao GLOBO Yvonne Tsikata, diretora do Bird para o Caribe.

Segundo ela, o fundo a ser coordenado pelo banco poderá existir paralelamente a outro que a ONU venha a estabelecer ou, então, vir a ser basicamente endossado por aquela entidade:

- Na verdade poderão surgir mais outras fontes paralelas de financiamento. Ou seja, fundos com tamanhos e também objetivos distintos, cada um enfocado numa área específica como infraestrutura, saúde, educação, alimentação e assistência humanitária.

Préval: "O cenário aqui é inimaginável"

Em telefonema a Robert Zoellick, presidente do Bird, o presidente do Haiti, René Préval, disse que não tinha condições de realizar uma avaliação. "O cenário aqui é inimaginável", descreveu. O banco montou uma equipe de especialistas que contará com uma verba de US$250 mil para uma avaliação preliminar nos próximos dias.

Aqueles profissionais sabem que, na prática, terão de refazer de ponta a ponta a "Estratégia de Assistência ao País", que havia sido aprovada em junho do ano passado. Essa estratégia já incluía, entre suas metas, a redução da vulnerabilidade do país aos desastres naturais.

Um dos técnicos que participou de várias missões que resultaram naquela estratégia revelou que a surpresa da equipe foi grande:

- Imaginávamos o tamanho do buraco. Ainda assim, a realidade surpreendeu inclusive os mais calejados do grupo. A situação socioeconômica era alarmante - disse ele.

O Bird já recebeu um informe preliminar da Cruz Vermelha, calculando que pelo menos um terço da população haitiana vai depender do governo para obter alimentos, água e abrigo ao longo de vários meses.

- A estratégia que havíamos traçado permanece relevante. Mas, obviamente, agora teremos que dar prioridade às necessidades mais prementes da população. Um exemplo: apressar o projeto de construção de escolas e ampliar o programa de nutrição aos alunos que, aliás, vinha sendo cofinanciado pelo Brasil - disse a diretora do Bird.

Desde janeiro de 2005, o banco injetou US$363 milhões no Haiti, cuja situação já era tão precária que tal dinheiro entrou ali como doação e não como empréstimo. A sua população, na verdade, vinha dependendo basicamente das remessas feitas por haitianos que trabalham no exterior.

Em 2008 - dado oficial mais recente - os trabalhadores remeteram ao seu país nada menos do que US$1,8 bilhão. Ou seja, o equivalente a pouco mais de um quarto (26%) do produto interno bruto (US$6,9 bilhões) do Haiti.