Título: Impostos ajudaram a puxar spreads
Autor: Schreiber, Mariana
Fonte: O Globo, 19/12/2009, Economia, p. 33

Encargos foram os que mais pesaram. Calote é o menos relevante

BRASÍLIA. Sem ter culpa, o consumidor arcou com spreads bancários ¿ diferença entre custo de captação e taxa cobrada no empréstimo ¿ maiores em 2008, ano em que a crise internacional entrou na sua fase mais aguda. O principal vilão, segundo o Relatório de Economia Bancária e Crédito divulgado pelo Banco Central (BC), são impostos e encargos fiscais. As margens de ganho dos bancos também pesaram no período ¿ mas menos do que a mão do Estado.

Em 2007, os spreads do sistema financeiro estavam em 28,40 pontos percentuais da taxa final e, no ano seguinte, saltaram para 39,98 pontos. O crescimento é de quase 41%.

Neste total, encargos (PIS/Cofins e Imposto sobre Operações Financeiras), o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e impostos diretos (IR e CSLL) respondiam por 19,40% em 2007 e passaram a 23,34% no ano seguinte.

Já o lucro dos bancos, dentro da composição dos spreads, respondia por quase um terço: 29,22% em 2007 e 29,43% no ano seguinte.

O analista do setor bancário da corretora Ágora, Aloísio Lemos, lembra que houve aumentos na carga tributária no setor.

No dia 2 de janeiro de 2008, por exemplo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que a alíquota da CSLL passaria de 9% para 15%, para compensar o fim da CPMF. Naquele momento, os analistas já acreditavam que a diferença seria repassada para o consumidor por meio dos spreads.

A inadimplência, por outro lado, também cresceu, segundo o BC, mas de forma bem menos intensa: respondia por 32,70% dos spreads em 2007 e, em 2008, por 33,60%. Isso significa que pagamentos atrasados de empréstimos de pessoas físicas e empresas não tiveram seus pesos muito alterados no período.

O estudo do BC também traz a nova metodologia de cálculo dos spreads, agora incluindo os créditos direcionados ¿ que têm destino certo, como financiamentos imobiliário e agrícola.

Nestes casos, por exemplo, os recursos vêm da poupança e os bancos têm, obrigatoriamente, de usá-los para empréstimos específicos.

Caso contrário, sofrem penalidades.

Neste ponto, o levantamento mostrou que os bancos privados elevaram a oferta de crédito imobiliário devido à a exigibilidade na poupança, diferentemente das instituições públicas, que tiveram crescimento real, puxado pelo aquecimento do mercado e políticas agressivas de venda dos produtos.

Procurada, a Febraban, federação de bancos, não se pronunciou