Título: Meirelles: Não sou um político. Poderei vir a ser, quem sabe?
Autor: Meirelles, Henrique
Fonte: O Globo, 20/12/2009, Economia, p. 42
Ele não descarta ainda a possibilidade de voltar para a iniciativa privada
Prestes a retomar uma carreira política iniciada em 2002 e interrompida precocemente às vésperas de assumir seu primeiro mandato como deputado federal pelo estado de Goiás ¿ justamente para ocupar a presidência do Banco Central, em 2003 ¿, Henrique Meirelles afirma que suas principais referências políticas são os ex-presidentes Juscelino Kubitschek, pelo dinamismo que trouxe ao país e o sentimento de o Brasil querer ser grande, e Tancredo Neves, pela sabedoria e espírito conciliatório.
Recém filiado ao PMDB, como um passaporte para voltar ao mundo político, e cotado para inúmeros cargos ¿ inclusive para compor a chapa presidencial com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff ¿ Meirelles faz mistério sobre qual será seu projeto. Diz que não é político, mas poderá ser a partir do fim de março de 2010. E, pela primeira vez, admite até mesmo voltar para a iniciativa privada.
Patrícia Duarte e Sergio Fadul BRASÍLIA
O GLOBO: Na confraternização de fim de ano do PMDB, o senhor foi bastante disputado.
Está à vontade? HENRIQUE MEIRELLES: Eu simplesmente fui convidado e compareci como um mero filiado à festa de fim de ano do PMDB. Eu não sou político.
Poderei vir a ser, quem sabe? Hoje, sou banqueiro central.
Qual foi a sua motivação para entrar na política? MEIRELLES: Quando resolvi me aposentar (da presidência mundial do BankBoston) em 2002, comecei a pensar nisso um ano antes. Tomei algumas decisões, que não eram fáceis. A primeira, me aposentar, quase dez anos antes do prazo limite que seria em 2012, exercendo um direito por contrato por ter cumprido os resultados esperados.
Tomei a decisão de me aposentar e voltar ao Brasil. A segunda decisão foi a de colocar a serviço do país toda a experiência que tive no mundo inteiro. Liderei uma instituição com presença em 32 países, lidando com problemas econômicos. O Brasil estava em crise. Conversei com diversos líderes e políticos na época. Com o hoje presidente Lula, com o então presidente Fernando Henrique, com o diretório nacional do então PFL (hoje DEM), com o atual deputado federal Ciro Gomes (PSBCE) e com líderes do setor privado.
E concluí que, naquele momento, uma maneira de colocar minha experiência a serviço do país seria pela via parlamentar.
Fui para Goiás, me candidatei a deputado federal, ganhei. O presidente Lula me convidou para assumir o BC. Renunciei ao mandato, vim e aqui estou.
O senhor sempre teve atração pela política? MEIRELLES: Não é exatamente política. Sempre gostei de ter uma participação comunitária, fundei a sociedade Viva o Centro de São Paulo, em 1991, participei da fundação Travessia juntamente com o hoje deputado Ricardo Berzoini, em 1995, fiz política estudantil intensamente no secundário. Na minha família, meu pai foi secretário de estado várias vezes.
Meu avô foi prefeito. Não há dúvida de que tive convivência com a função pública, e estou no BC há sete anos.
Entre as alternativas que se apresentam, como disputar o governo de Goiás ou ser vicepresidente na chapa da ministra Dilma Rousseff, qual lhe agrada mais? MEIRELLES: Existem várias alternativas na vida pública, como deputado estadual, deputado federal, senador, vice-governador, governador, vice-presidente (rindo). Não tenho pretensões, hoje, a nenhum desses cargos. Isso que eu digo é sério.
Estou dedicado ao BC até a segunda quinzena de março, quando tomarei uma decisão.
Se buscarei uma via eleitoral ou não. Se não, está resolvido, fico no BC até dezembro de 2010. Se decidir buscar a via eleitoral, terei dois, três meses para analisar.
Só aí, faria as conversas, as articulações.
Quais as suas referências na política? MEIRELLES: Lulaaaaa (rindo).
Juscelino Kubitschek , Tancredo Neves. São dois nomes. Juscelino, pelo que ele representou na época, de otimismo, de dinamismo, de liderança. Foi quando o Brasil mostrou uma disposição de se tornar um país de grande porte. E Tancredo Neves por sua sabedoria, capacidade de conciliação, visão, o homem que teve papel muito importante para a retomada da democracia.
Existe algum político que o senhor para e escuta? MEIRELLES: Lula (rindo novamente).
Prefiro não me manifestar, sou presidente do BC.
Observo economistas, presidentes do BC, ministros da Fazenda. Não dedico grande tempo, é real isso, a ouvir o debate político. Sou um homem muito focado, muito disciplinado, e o meu tempo livre é muito voltado para a leitura e avaliação econômica.
Quem são seus conselheiros políticos? MEIRELLES: Não tenho conselheiros políticos porque não estou fazendo política. Se tomar a decisão de tomar a via eleitoral, aí, a partir de abril, terei todo o tempo para conversar com políticos.
E sua família está fechada qualquer que seja sua decisão? MEIRELLES: Está fechada e não abre, para qualquer decisão.
Inclusive voltar ao setor privado.
Isso é uma novidade...
MEIRELLES: É uma possibilidade, lógico que é uma possibilidade.
Gosto muito, sempre fui do setor privado. Já fiz bastante coisa no setor público.
Não consideraria a possibilidade quando me aposentei do setor privado em 2002, achava que tinha que prestar uma contribuição ao país. Já se passaram sete anos, num certo momento terão sido oito.
E o senhor, nesse período, queimando suas reservas financeiras...
MEIRELLES: Falou e disse (rindo). Presidente e diretor do BC não têm nada de reajuste.
Muito pouco