Título: No caminho, problemas e pedágios
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 20/12/2009, Economia, p. 43

Tarifa cobrada de motorista no Rio supera inflação, mas estradas travam economia

No Rio, pagar pedágios nas estradas federais nem sempre significa que o caminho estará livre de problemas. Mesmo com a cobrança ¿ que nesta década subiu mais que a inflação ao consumidor e que chega a representar 82% do custo do combustível em alguns trajetos ¿, a fluidez do trânsito, as obras de ampliação e até de melhorias fundamentais para a segurança dos usuários acabam, muitas vezes, em segundo plano. Esta situação afeta fortemente a economia do estado. Algumas cidades serranas, por exemplo, perdem até 15% do fluxo de turistas de um fim de semana por problemas nas estradas. A atual situação de determinadas vias mudam ainda a rotina de empresas, que perdem quatro horas por dia com o atraso para enviar ou receber suas cargas.

Nesta década, a inflação pelo IPCA, índice oficial de preços, subiu 89,26%. Os reajustes dos pedágios pelas concessionárias foram além: 109,5% da NovaDutra, 127,3% da Concer, 135,3% da Ponte Rio-Niterói e 150% da CRT.

Os problemas atingem as principais rodovias federais da região: Dutra, Ponte, Rio-Petrópolis, Rio-Teresópolis e BR-101.

Usuários das seis estradas federais com pedágio no estado ¿ que juntas somam 1.278 quilômetros e 19 praças de cobrança ¿ e especialistas reconhecem que as empresas garantem boa pavimentação e serviços emergenciais, e que foi observada uma forte redução no número de acidentes.

Mas Eduardo Rebuzzi, presidente da Federação do Transporte de Carga do Estado do Rio de Janeiro (Fetranscarga) e diretor da Confederação Nacional de Transporte (CNT), afirma que as estradas trazem problemas de logística para o estado, que perde competitividade: ¿ A manutenção das estradas, pelo nosso levantamento anual, pode ser considerada boa em alguns trechos, muito boa e ótima. Mas em relação à fluidez dos veículos, são ruins. Queremos que a nossa pesquisa de 2010 passe a levar em conta a fluidez, pois isso interfere diretamente no transporte.

Empresário: entregas apenas entre 10h e 16h Uma das piores situações é na Baixada Fluminense. A região, cortada pela Dutra, vive o drama diário dos congestionamentos. A construção da marginal em Nova Iguaçu e São João de Meriti deveria estar concluída em 2003.

¿ Peço aos meus fornecedores para não entregarem nada até as 10h ou depois das 16h, ou seja, meu dia útil ficou reduzido ¿ afirma Ademar Makiota, dono de uma confecção e de uma pequena construtora, lembrando que não foram poucas as vezes que teve de parar suas empresas por falta de material, preso no congestionamento da rodovia.

Morador da região, Wallace Fernandes se indigna com a alteração de sua rotina: ¿ Engarrafamento diário é uma vergonha.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) chegou a entrar na Justiça contra a NovaDutra ¿ empresa do grupo CCR ¿ para que a marginal fosse construída. Depois disso, a concessionária firmou um compromisso de acelerar a construção das vias e providenciar até o fim deste ano o licenciamento ambiental para a duplicação do trecho da Serra das Araras. Se as obras saírem, a ação será suspensa.

Na Região Serrana, a maior crítica às duas vias federais com pedágios se refere aos deslizamentos na estradas, que ainda provocam tragédias, como a morte de três pessoas em novembro na Rio-Teresópolis. A estrada, desde então, está operando em meia pista, mas o tráfego voltará ao normal no dia 23 ou 24, segundo a CRT. A situação dificulta o turismo da região. Além disso, existe uma disputa com a Concer sobre a duplicação da Rio-Petrópolis.

¿ Um fim de semana com a estrada com meia pista impedida, como sempre acontece no verão, faz com que se reduza em 10%, 15% o fluxo de turistas. A cidade se prepara, mas o consumidor não chega ¿ disse Charles Rossi, presidente da Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis.

`Os pedágios são caros para os serviços oferecidos¿ No Norte Fluminense, o encanto com as melhorias no pavimento da BR-101, concedida à espanhola OHL em 2008, começa a dar lugar à preocupação com outras obras. O receio de Geraldo Coutinho, proprietário de uma usina de álcool e presidente da unidade regional da Firjan, é com o prazo: ¿ Realmente melhorou a estrada.

Antes, por semana, tínhamos ao menos um pneu furado de n o s s o s c a m i nhões que vão ao Rio. Mas a preocupação agora é que já se passou metade do prazo para as primeiras obras e nada ainda saiu do papel.

Em tese, eles ainda não estão atrasados, mas tememos que as obras não fiquem prontas a tempo.

Ele lembra que a população da cidade quer trocar a primeira obra para a região prevista no contrato de concessão ¿ a construção do contorno de Campos ¿ pela duplicação do trecho entre a cidade e Macaé, prevista somente para estar concluída em 2023. Este pedido já foi aceito: a OHL e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) chegaram a um acordo que vai garantir toda a duplicação da BR-101 até 2016.

Na Ponte, cada vez fica mais evidente a necessidade de obras extraordinárias, principalmente a ligação da via com a Linha Vermelha e a Avenida Brasil ¿ obras que não estavam previstas e que estão em negociação. A Acciona, empresa espanhola que assumiu a BR-393, está com as obras nos prazos.

Além das vias federais, o Rio possui outras três estradas com pedágios: a Via Lagos, a Rota 116, ambas estaduais, e a Linha Amarela, municipal. Entre estas, especialistas dizem que a situação da Via Lagos é a que menos reflete o preço da tarifa cobrada, uma das mais caras do país. Nos fins de semana, custa R$ 14,40.

Na Rio-Juiz de Fora, um carro 1.0 a álcool gastaria cerca de R$ 54 com combustível para fazer todo o trajeto, ida e volta, e R$ 45 em pedágio ¿ ou 82% do valor do tanque. Na Dutra, na mesma comparação, o motorista gastaria R$ 122 de álcool e R$ 68 de pedágio ¿ 56,3%.

¿ Os pedágios são muito caros para os serviços que são oferecidos ¿ afirmou Renato Voltaire, diretor da Associação Nacional dos Usuários de Transporte de Cargas (Anut).