Título: Lula minimiza chapa Serra-Aécio
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 22/12/2009, O País, p. 3

Presidente diz que nem sempre dois Tostões juntos dão certo e critica o PT de São Paulo

BRASÍLIA

Embalado pelos bons resultados da economia e pela alta popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerra o ano otimista em relação às eleições de 2010, minimizando o poder de voto de uma eventual chapa puro-sangue do PSDB, com os governadores José Serra e Aécio Neves, e apostando na sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff.

No já tradicional café da manhã de fim de ano com jornalistas que fazem a cobertura diária da Presidência ¿ e no qual a conversa com o presidente não pode ser gravada ¿, Lula recorreu de novo ao futebol para explicar por que não teme enfrentar a dupla Serra e Aécio. Afirmou que um time com ¿dois Tostões¿ não teria necessariamente resultados positivos ¿ referindo-se ao craque da Seleção Brasileira e do Cruzeiro, nas décadas de 60 e 70.

Lula afirmou que amanhã vai se encontrar com Serra, em São Paulo.

E depois das festas de fim de ano, vai conversar com Aécio, ¿com quem sempre se aprende de política¿, como disse.

Depois de ter criado um mal-estar com o PMDB, ao sugerir que o partido indique uma lista tríplice para formar a chapa de Dilma, o presidente afirmou que caberá à ministra escolher seu vice com a legenda. E criticou o PT de São Paulo.

Ao longo da conversa de quase uma hora e meia com os jornalistas, entre goles de café, Lula falou sobre tudo. Os principais trechos: REJEIÇÃO DE DILMA: ¿Não estou preocupado com a rejeição da Dilma.

Rejeição é algo que se trata com carinho, mas ainda é cedo. A fotografia a ser tirada deve ser em março. É só lembrar que eu tinha índice alto de rejeição.

Até o afastamento, Dilma é ministra e vai exercer até o limite legal o seu cargo. E vai inaugurar obra, vai viajar. Ela coordenou, vai viajar.¿ DILMA x CONTINUIDADE: ¿É difícil mudar o que está dando certo.

É só aperfeiçoar. A Dilma tem juízo político e econômico, não rasga nota.

Ela esteve com o presidente na coordenação do governo.¿ AÉCIO DESISTE: ¿Foram razões internas.

Não sei se é definitivo ou não.

Tinha uma força muito grande para o Serra ser candidato. Vou falar com o Aécio depois das festas de fim de ano.

É sempre bom conversar com o Aécio sobre política, a gente aprende. Vou falar com o Serra quarta (amanhã).¿ CHAPA SERRA-AÉCIO: ¿Tenho dúvidas se é bom. Não sei se um time Tostão-Tostão, Coutinho-Coutinho e Dirceu Lopes-Dirceu Lopes seria a melhor coisa, não sei se daria certo. Com Serra ou Aécio, a estratégia montada para a Dilma vai ser a mesma. Queremos uma campanha polarizada, com dados comparativos dos dois governos.¿ ÉTICA: ¿Ética nunca foi nem será algo secundário, nem na vida pública nem na vida pessoal. Lógico que as pessoas, numa campanha, vão analisar a conduta pessoal do candidato, mas vão analisar também se a vida delas melhorou ou não.¿ PMDB: ¿A relação com o PMDB está tranquila. Quem escolhe o candidato a vice é a Dilma, não sou eu. É ela que tem de escolher o vice. No momento certo, o PMDB vai sentar com o PT para discutir isso, e espero que eu não esteja presente. Sou presidente até 31 de dezembro (de 2010). Depois disso, rei morto, rei posto. Nem vento bate nas costas. O PMDB é o maior partido da base aliada. Tem todo direito de indicar o vice. E a Dilma vai escolher. Já dei a sugestão principal que foi a Dilma.¿ PMDB COM SERRA: ¿Não acredito que o PMDB vá com o Serra. Mas respeito a autonomia do partido.¿ TEMER: ¿Temer é um companheiro leal, um grande presidente da Câmara.

Mas fico pensando na manchete de vocês. Não quero que vocês escrevam nem que vai ser nem que não vai ser (vice de Dilma).¿ TRANSFERÊNCIA DE VOTOS: ¿Temos que trabalhar muito. Só uma vez houve transferência voluntária, foi do (Leonel) Brizola e do (Mario) Covas para mim em 89, porque a eleição era muito polarizada. O problema da (Michelle) Bachelet é que ela tinha dois candidatos dela disputando as eleições (no Chile). Agora no segundo turno ela vai trabalhar mais.¿ LIDERANÇA DE SERRA: ¿A partir de março, vamos ter com mais clareza quem vai ser candidato ou não.

Desde que começou meu segundo mandato, o Serra está na frente das pesquisas. Pesquisa é igual ao Campeonato Brasileiro: o Palmeiras sempre esteve na frente, e daí apareceu o Flamengo.¿ CANDIDATO PAULISTA: ¿Não vou me meter, já tem muito cacique em São Paulo. O problema é que o PT nunca repetiu candidato em São Paulo. Do ponto de vista político, isso não é bom. O candidato começa com 5% e termina com 30%. Na eleição seguinte, escolhe outro que começa com 5% de novo. Trinta por cento ganhava eleição quando não tinha segundo turno.

Elegemos a (Luiza) Erundina em 88 assim (para a prefeitura de São Paulo).¿ PT EM SÃO PAULO: ¿O PT precisa entender que, se 30% elegesse, não precisava de aliados. Se precisa de 50% mais um, precisa procurar os outros 20%. A palavra é aliança política.

Precisamos discutir com os partidos e saber quem tem esses 20% complementares.

Não sei se partido, empresário ou personalidade. O PT precisa procurar um José Alencar. O PT sempre fez aliança pela esquerda, a soma do zero pelo zero. Não agrega segmento novo. Não pode ser a soma de nós com nós mesmos.¿ CIRO GOMES: ¿Tenho muito apreço pelo Ciro. É como se fosse meu irmão.

Nem todo irmão é um grande companheiro, mas todo companheiro é um grande irmão. O Ciro é de uma lealdade extraordinária, um companheiro de primeira hora. Tenho profundo respeito por ele. Se o Ciro achar que tem de ser candidato, ele tem todo o direito. Agora, se o jogo político não comportar mais de uma candidatura da base, tenho de ser leal e discutir com ele. Mas isso em março, abril.¿ CIRO x PMDB: ¿Ah, meu Deus do céu, para isso existe a liberdade de expressão.

Ciro sabe que temos de fazer alianças com os partidos que existem no país, não podemos fazer aliança com partidos extraterrestres.¿ MEIRELLES: ¿Vou repetir o que já disse. Se depender de mim, o Henrique Meirelles fica na presidência do Banco Central até de 31 de dezembro, quando acaba meu mandato