Título: Investimentos contra a CPI
Autor: Otoni, Luciana; Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 02/06/2009, Política, p. 4

Sob investigação do Senado, Petrobras investiu R$ 17,9 bilhões de janeiro a abril. Governo quer usar o desempenho para conter a ofensiva da oposição sobre a empresa.

O governista Raupp: ¿Os dados reforçam o equívoco dessa CPI¿ Alvo de uma CPI recém-instalada no Senado, a Petrobras acelerou o ritmo dos investimentos neste ano. Segundo dados do Ministério do Planejamento, a empresa investiu R$ 17,9 bilhões entre janeiro e abril, R$ 5,2 bilhões a mais do que no mesmo período do ano passado. O valor corresponde a 91% do total desembolsado pelas estatais no primeiro quadrimestre de 2009, que foi de R$ 19,1 bilhões. Parlamentares governistas pretendem usar os dados para acusar a oposição de errar ao propor uma comissão parlamentar de inquérito sobre a empresa. Lançarão mão dos números a fim de reforçar o discurso segundo o qual PSDB e DEM agem de forma irresponsável ao mirar o carro-chefe dos investimentos públicos em plena crise econômica.

Tais argumentos não assustam os oposicionistas. Para eles, os investimentos bilionários só reforçam a necessidade de se analisar os gastos da Petrobras, considerados por eles uma caixa-preta. ¿Os dados reforçam o equívoco dessa CPI¿, afirmou o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), suplente da CPI, para quem a empresa sempre foi a gigante das estatais brasileiras. ¿É uma justificativa a mais para se ter uma investigação¿, retrucou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento de criação da CPI.

A maior parte dos recursos investidos pela Petrobras foi empregada na ampliação da extração, produção e refino de petróleo. O aumento do volume de repasses é resultado direto da decisão do governo, adotada no início do ano, de livrar a Petrobras da obrigação de destinar R$ 14,8 bilhões em recursos para a formação do superávit primário, que é a economia realizada pelo setor público para o pagamento de juros da dívida. Essa retirada também teve o objetivo de fazer da estatal um importante vetor da retomada da produção industrial do país e de contraponto ao esfriamento da economia.

Comando A CPI da Petrobras começará formalmente seus trabalhos hoje. O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), deve se encontrar com o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (PTB-PE), para definir a posição de sua bancada com relação à presidência e à relatoria da comissão. O peemedebista está em dúvida se indica o relator, com estava previsto, ou o presidente. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), e o senador Paulo Duque (RJ) são os mais cotados para a relatoria. Já o líder do PT na Casa, Aloizio Mercadante (SP), definirá a posição do partido depois de uma reunião com a bancada petista. Os senadores João Pedro (PT-AM) e Ideli Salvatti (PT-SC), líder do governo no Congresso, estão cotados para a presidência.

A oposição espera o acerto dos governistas com poucas esperanças de conseguir, mesmo que na última hora, direito a um cargo de comando. Conscientes de que não vão avançar nas investigações no Congresso, os oposicionistas afinam a estratégia de levar os casos ao Ministério Público Federal (MPF). Ontem, o senador Álvaro Dias conversou pessoalmente com o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Álvaro recebeu o aval do chefe do MPF ¿ que deixa o cargo no fim do mês ¿ para adotar essa forma de atuação. Ou seja, encaminhar representações para a instituição apurar.