Título: BC já vê inflação acima do centro da meta
Autor: Batista, Henrique Gomes ; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 23/12/2009, Economia, p. 29
Relatório prevê taxa de 4,6% em 2010. Sobre juros, diretor diz que "é melhor prevenir do que remediar"
BRASÍLIA e RIO. O forte consumo interno e a rápida recomposição dos investimentos pelas empresas impedirão a economia de registrar recessão este ano e levarão o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) a disparar em 2010, segundo as últimas projeções deste ano do Banco Central (BC). De acordo com o Relatório de Inflação do quarto trimestre, a economia terá ligeira expansão em 2009 ¿ 0,2%, contra a previsão de 0,8% de até então ¿ e em 2010 crescerá 5,8%. Com o ritmo de atividade, a inflação do ano que vem começa a desviar do centro da meta (4,5%): já alcança 4,6%, na conta básica do BC.
Essa equação levou o diretor de Política Econômica da instituição, Mário Mesquita, a fazer avaliações que foram entendidas como um recado de que é concreta a possibilidade de os juros básicos voltarem a subir em 2010, ao contrário do que acredita o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que não vê motivos para os juros subirem em 2010. A Taxa Selic está fixada em 8,75% ao ano desde junho. Na média das opiniões colhidas pela pesquisa Focus, do BC, o mercado aposta que esse movimento será retomado em abril.
¿ A inflação brasileira tem uma persistência acima da média internacional, que sugere que as autoridades responsáveis pela condução da política monetária devem sempre ter em mente aquela máxima de que é melhor prevenir do que remediar. Por acreditar que o BC fará o necessário, os analistas acreditam que a inflação ficará próxima à meta (em 2010) ¿ afirmou ontem Mesquita.
Pelo último relatório Focus do BC, o mercado acredita que o IPCA de 2010 ficará exatamente em 4,50%, mas com a Selic a 10,75% anuais.
A atividade econômica, informou o BC, será fortemente puxada pelo consumo das famílias que, no próximo ano, crescerá 6,1%, tendo um peso de 3,7 pontos percentuais na previsão fechada para o PIB e muito acima dos 3,8% de expansão esperados para 2009. O consumo do governo, por outro lado, vai perder importância: a expansão em 2010 será de 2,9%, sendo que neste ano ficará em 3,5%, movimento decorrente das ações anticíclicas para enfrentar a crise.
No relatório, o BC fez várias menções sobre os incentivos fiscais e monetários dados pelo governo ao longo deste ano para enfrentar a crise e os destaca como um risco a ser monitorado.
São eles desonerações tributárias para incentivar o consumo e os investimentos e a flexibilização de compulsórios.
Segundo estudo do Itaú Unibanco, o PIB teria sofrido retração de 3,2% em 2009 sem as medidas do governo. A expectativa do banco é que a economia se retraia 0,3% neste ano. A redução dos juros, realizada pelo BC, por exemplo, impediu uma queda adicional de 0,8%. Já as medidas fiscais evitaram que a retração do PIB fosse potencializada em 2,1%.
Incentivos puxarão expansão em 2010, diz Itaú Unibanco
Para 2010, o banco estima crescimento da economia de 6% ¿ e quase metade disso será causado pelas medidas de estímulo.
De acordo com Aurélio Bicalho, economista da instituição, o crescimento sem as medidas de estímulo seria, no próximo ano, de apenas 3,7%: ¿ Para 2010, a redução dos juros vai acrescentar ao crescimento 1,3 ponto percentual do PIB, enquanto as medidas fiscais vão contribuir com 1 ponto percentual.
A contribuição da redução dos juros foi menor neste ano pois sempre há um intervalo entre o anúncio da redução e seu impacto na economia real.
Bicalho acredita que esse forte crescimento fará com que o governo eleve a Taxa Selic a partir de março. Atualmente em 8,75% ao ano, ela fecharia 2010 em 11,50%.