Título: Eles me cortaram com facão
Autor:
Fonte: O Globo, 28/12/2009, O País, p. 3

O pedreiro Raimundo Silva, de 36 anos, saiu há dois meses de Imperatriz, no Maranhão, para trabalhar no hotel e no bar do irmão em Albina, no Suriname.

Na noite de Natal, foi uma das vítimas do ataque violento de surinameses. Do Hospital Acadêmico, em Paramaribo, disse que deseja voltar logo para o Brasil

Carolina Brígido

O GLOBO: O que aconteceu na noite do dia 24? RAIMUNDO SILVA: No hotel do meu irmão tem um bar que só vai brasileiro. Na noite de quinta para sexta, eu estava tomando conta do bar e estranhei o movimento. Os ¿morenos¿ estavam chegando e eles não costumam ficar lá, porque não se unem com os brasileiros. Depois, fiquei sabendo que era tudo premeditado, eles estavam planejando um arrastão.

Como a briga começou? SILVA: Na primeira voz de assalto, um brasileiro reagiu e deu uma facada num ¿moreno¿. Foi a gota d¿água. A turma deles começou a chegar de pau e facão.

Só deu tempo de fechar o bar.

Fizeram arruaça, vandalismo, quebra-quebra. Foi cada um por si. Eles me pegaram na rua, bateram muito com pau, chutaram e me cortaram com facão.

Caí e, como fiquei dado por morto, largaram mão de mim.

Cortei o braço e a cabeça.

Você viu outras pessoas apanhando? SILVA: Passei uma hora mais ou menos no chão. Não via nada, mas ouvia tudo o que estava acontecendo. Depois me disseram que cortaram a barriga de uma moça que estava grávida e sempre ia lá no bar. O bebê morreu e hoje me disseram que ela também morreu. Também mataram o marido dela (Não há confirmação dessas mortes).

Morreu mais gente? SILVA: Conheço muito brasileiro e sei que está faltando gente. Estão dizendo que não morreram, mas deve estar tudo dentro do rio (sic).

Pretende voltar ao Suriname? SILVA: Não tem como ficar num lugar desse. Eles aqui têm raiva de brasileiro. Eles não gostam, olham diferente para os brasileiros.