Título: Especialistas: Brasil deve cooperar com vizinho
Autor: Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 28/12/2009, O País, p. 4

"Quilombolas do Suriname lutam na defesa do emprego, da terra e dos recursos naturais", afirma professor da UFRJ

SÃO PAULO: O ataque contra brasileiros em Albina, no Suriname, deve servir de alerta aos governos dos dois países para que avaliem a situação dos trabalhadores das mineradoras da região, evitando, assim, a ocorrência de novos conflitos, diz Daniel Chaves, pesquisador do Laboratório Tempo Presente, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele diz que os dois povos não vivem em conflito, mas os quilombolas, nativos que foram colonizados pelos holandeses, nunca gostaram de disputar empregos com estrangeiros.

Segundo Chaves, especialista em Suriname, há anos a população quilombola critica a política local e, de modo geral, tem o branco como agressor. Primeiro foram os colonizadores; hoje são mineradores estrangeiros.

¿ Os brasileiros não são tidos como inimigos dos surinameses e não acredito que eles corram perigo. O que acontece é que os quilombolas do Suriname lutam na defesa do emprego, da terra e dos recursos naturais.

É preciso acompanhar sempre com muita atenção a seguridade jurídica de qualquer investimento brasileiro em zona de fronteira ¿ diz Chaves.

¿ Eles (os nativos surinameses) se revoltam e não suportam mais nenhuma provocação, seja de brasileiro ou não.

Briga de miseráveis com miseráveis, classifica Lafer Celso Lafer, ex-ministro de Relações Exteriores, diz que a briga no Suriname é de miseráveis contra miseráveis e defende medidas de cooperação econômica e social entre os dois países, por intermédio do Itamaraty. Para ele, a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), que integra o Ministério das Relações Exteriores, deve conduzir projetos que deem sustentabilidade à cooperação entre os dois países.

¿ O Suriname é um país pobre, mas os brasileiros bem ou mal encontram uma oportunidade econômica na mineração.

A população local se ressente e, por isso, um tratado de cooperação é muito importante ¿ afirma Lafer.

¿ O governo brasileiro precisa oferecer alternativas de cooperação e aproximar o Suriname do Brasil. É preciso adotar medidas para tornar o brasileiro no Suriname, na Colômbia, na Venezuela, na Bolívia e no Peru uma presença menos ameaçadora.

Isso é absolutamente recomendável e pode funcionar muito bem para evitar posteriores conflitos ¿ diz Chaves.

Para o especialista da UFRJ, o Brasil precisa exercer o papel de proeminência na América do Sul e conduzir com eficiência programas de segurança nas fronteiras. Segundo ele, essa postura inclui políticas mais adequadas e uma chancelaria bem atuante.

¿ A primeira coisa agora para o Brasil é patrulhar melhor as suas fronteiras e impedir que os seus cidadãos saiam daqui para procurar uma oportunidade que, muitas vezes, não é regulamentada no país estrangeiros. O Brasil tem se mostrado extremamente cooperativo e tem condições de, num momento como este, de uma situação de desemprego no Suriname, de uma situação étnica complicada, oferecer cooperação internacional ¿ afirma Chaves