Título: Jobim: Exército destruiu papéis sobre Jonas
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 26/12/2009, O País, p. 8

Em documento, ministro sustenta versão de que arquivos da Força não têm dados sobre morte de guerrilheiro

BRASÍLIA. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, decidiu sustentar a versão de que o Exército teria destruído os papéis sobre a morte de Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, considerado o primeiro desaparecido político da ditadura militar.

Em ofício enviado à Câmara dos Deputados, ele afirmou que os arquivos da Força não guardam registros sobre a morte do guerrilheiro após ser capturado pela Operação Bandeirante (Oban), em outubro de 1969. A manifestação do ministro, que nunca havia comentado o assunto, provocou protestos do grupo Tortura Nunca Mais.

Em agosto, O GLOBO revelou a existência de um dossiê secreto do Centro de Informações do Exército em que os militares assumem a responsabilidade pela morte do guerrilheiro. Após a publicação da reportagem, a Câmara aprovou requerimento do d eputado Chico Alencar (PSOL-RJ) cobrando explicações oficiais do ministro da Defesa, que chefia as Forças Armadas.

Em sua resposta, enviada em caráter reservado, Jobim afirmou: ¿Não existem, no acervo atual do Exército Brasileiro, quaisquer documentos sobre os fatos, atos ou intenções reportados¿. O ministro disse ainda que não era possível, com base nos arquivos da Força, confirmar a autenticidade do dossiê reproduzido pelo GLOBO. A veracidade do documento já foi confirmada pelo Arquivo Nacional, guardião do acervo do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI).

¿Duvido que o Exército tenha queimado os documentos¿ Em outro trecho do ofício, Jobim afirmou que os papéis secretos sobre o período teriam sido queimados. E disse o mesmo sobre os termos de destruição: ¿Antes do Decreto 2.134/97, era possível destruir documentos sigilosos, pela autoridade que os elaborou ou pela que os custodiasse. E isso foi feito, bem como (com) eventuais termos de destruição¿.

As explicações também foram assinadas pelo comandante do Exército, general Enzo Peri.

A versão de Nelson Jobim foi criticada pela ex-presa política Rose Nogueira, diretora do grupo Tortura Nunca Mais, em São Paulo: ¿ Duvido que o Exército tenha queimado esses documentos.

É um absurdo imaginar que até os termos de destruição foram destruídos. Tenho certeza de que as cópias existem e estão lá.

O deputado Chico Alencar também protestou.

¿ Não é possível que todos os papéis tenham sido rasgados.

Queremos virar as páginas da ditadura, mas não sem ler o que está escrito nelas. Fiquei decepcionado com as explicações do ministro da Defesa ¿ afirmou.

Guerrilheiro teria sido morto a pontapés Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, foi preso em São Paulo três semanas depois de comandar o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, trocado por 15 presos políticos. Ele pertencia à Ação Libertadora Nacional (ALN), liderada pelo exdeputado Carlos Marighella.

De acordo com relatos de dois ex-presos, o guerrilheiro foi morto a pontapés, ao fim de uma sessão de tortura em que se recusou a dar informações aos algozes. A cúpula do regime foi avisada sobre a morte, mas não suspendeu os processos contra Jonas na Justiça Militar. Ele foi condenado ¿à revelia¿ duas vezes.

As penas somariam 33 anos de prisão.