Título: Saldo comercial despenca 28%
Autor: Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 02/06/2009, Economia, p. 13

Negociação entre mineradoras e siderúrgicas diminui preço internacional do minério de ferro e provoca queda de 2,7% nas exportações totais brasileiras em maio frente a abril. As importações aumentam 8,4%. Barral, do Mdic: Reclamações quanto à desvalorização do dólar. A queda nas vendas de minério de ferro fez com que o superávit comercial do país (diferença entre exportações e importações) despencasse 28,6% de abril para maio. Com isso, o resultado positivo passou de US$ 3,713 bilhões para US$ 2,651 bilhões. No período, as exportações recuaram 2,7% (US$ 12,322 bilhões para US$ 11,985 bilhões) e as importações cresceram 8,4% (US$ 8,609 bilhões para US$ 9,334 bilhões).

Mesmo com essa desaceleração, o superávit acumulado no ano atingiu US$ 9,372 bilhões, com alta de 9,3% em relação a igual período de 2008 (US$ 8,573 bilhões). Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Welber Barral, houve uma forte redução da demanda (-34,7%) e do preço (-12,2%) do minério de ferro, fazendo com que as exportações da matéria-prima recuassem 42,7% de US$ 1,401 bilhão em abril para US$ 803 milhões no mês passado.

Na avaliação de Barral, se não fosse esse movimento, as vendas brasileiras para outros países teriam aumentado 2,4% no período ao invés de cair 2,7%. ¿Há uma negociação privada em curso e isso afeta os preços¿, explicou o secretário, referindo-se a conversas entre siderúrgicas chinesas e as mineradoras brasileiras Vale e Rio Tinto para chegar a um consenso sobre o preço do minério de ferro. O desempenho impactou diretamente nas vendas do país para a China que, na comparação entre abril e maio, teve baixa de 7,7%. No caso dos Estados Unidos, a queda foi de 19,4%, reflexo do consumo menor provocado pela crise econômica mundial.

Apesar da diminuição das vendas do minério, o país aumentou em 75% as exportações de ferro fundido (aumento de 245% na quantidade e queda de 49% nos valor do produto). Também houve recuperação nas vendas de carne salgada (98%), fumo em folhas (90%), açúcar (63,4%), frango industrializado (55,4%) e álcool (15,5%).

Barral contou ainda que devido às incertezas na economia mundial está difícil fazer estimativas e definir metas. Por enquanto, a previsão da equipe do Mdic é exportar US$ 160 bilhões este ano. A dificuldade em atualizar a projeções está relacionada ao impacto do fortalecimento do real frente ao dólar na balança comercial. Somente neste ano, a desvalorização da moeda americana frente ao real chega a 15,3%.

Segundo ele, a valorização do real pode diminuir a competitividade dos produtos nacionais. Mas tudo dependerá do comportamento das outras moedas em relação ao dólar. Ele frisou que a instabilidade do câmbio está criando insegurança entre empresários brasileiros, principalmente, em setores intensivos em mão de obra, como têxtil e calçados. ¿Num momento de crise internacional, não é interessante um câmbio volátil e desequilibrado¿, afirmou, ressaltando que o Banco Central (BC) está intervindo no mercado para tentar diminuir a instabilidade na cotação da moeda norte-americana.

Taxação para estrangeiros O governo ainda estuda a possibilidade de taxar os investimentos estrangeiros em títulos públicos para evitar um fortalecimento maior do real frente ao dólar, o que prejudicaria o resultado da balança comercial. ¿A discussão é se o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) realmente vai ter esse impacto¿, afirmou o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral. Ele destacou, no entanto, que qualquer intervenção será feita com respeito às regras vigentes. (ES)