Título: Brasil pode pegar carona
Autor:
Fonte: O Globo, 22/01/2010, Economia, p. 23

País tem mais a ganhar com força da China, mesmo com maior competição RIO e BRASÍLIA. A força econômica do gigante asiático traz mais vantagens que desvantagens ao Brasil, segundo especialistas. Grande consumidor de matéria-prima, a China foi o principal parceiro comercial do Brasil em 2009. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, enquanto a corrente de comércio (soma de exportações e importações) Brasil-China aumentou de US$ 35,8 bilhões para US$ 36,1 bilhões, o fluxo comercial com os EUA foi de US$ 35,9 bilhões.

Lideram a pauta de bens embarcados para o mercado chinês commodities como soja e minérios.

¿ A China foi o único entre os principais parceiros comerciais do país que compraram mais produtos brasileiros em 2009 que em 2008 ¿ afirma Rodrigo Maciel, secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil China (CEBC).

Ele acredita que a China deve crescer cerca de 9% este ano, tendo que enfrentar o desafio de evitar um superaquecimento de sua economia. E espera que nosso saldo comercial com o país possa chegar a ser anulado: ¿ Cerca de 70% das nossas importações da China são bens de capital e insumos, e com a indústria nacional reaquecendo, devemos comprar mais dos chineses.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, diz que a tendência é de um maior aperto monetário: ¿ A China começou a tomar medidas de aperto mais cedo que os outros países, porque passou por um período de longa frouxidão monetária. A tendência, agora, é que o país adote políticas mais rígidas para manter o crescimento na faixa dos 9%.

Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que China e Índia, que deve ter crescido em 2009 na casa dos 6%, foram fundamentais pela redução dos danos da crise mundial. Ele acredita que o país asiático está dando a devida atenção para evitar um superaquecimento da economia ou bolhas no mercado imobiliário ¿ a criação de novas restrições ao crédito para consumo e habitação é prova disso ¿ e que o Brasil poderá entrar, em 2010, na lista dos superemergentes que vão ajudar a puxar o crescimento global: ¿ A China deve crescer na casa dos 10%, a Índia, 7% e o Brasil, 6%, pela primeira vez em patamar comparável ao dos outros países.

Ele lembra que o fortalecimento da economia chinesa amplia a concorrência mundial para as empresas brasileiras, que na verdade competem com firmas asiáticas de uma forma geral.

¿ Mas isso é positivo, poderemos retomar a agenda da reformas, principalmente para termos mais infraestrutura e redução de carga tributária, que no Brasil é o dobro da chinesa. Não adianta termos ganhos de eficiência em uma empresa, precisamos de um ganho de produtividade sistêmica ¿ disse.

No governo, a avaliação é que a China, gigantesco exportador de bens de consumo em geral, tomou o espaço do Brasil no mercado americano ¿ o que demonstra a necessidade de maior competitividade para o produto nacional. O mesmo se pode dizer da América Latina, tradicionalmente grande importadora de manufaturados brasileiros. Em 2009, as exportações para os países latino-americanos e caribenhos caíram 32% em relação a 2008. (Eliane Oliveira, Henrique Gomes Batista e Danielle Nogueira).