Título: O avanço do gigante
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Fonte: O Globo, 22/01/2010, Economia, p. 23

China cresce 8,7% em 2009 e deve desbancar Japão como 2a- maior economia mundial este ano

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A China superou com facilidade sua meta de crescimento de 8% em 2009, após forte expansão no quarto trimestre, informou ontem o governo chinês. O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) subiu 8,7% no ano, para 33,5 bilhões de yuans ou US$ 4,9 trilhões.

A cifra põe o país no caminho para ultrapassar o Japão no ranking mundial das maiores economias este ano.

Em 2008, a China estava em terceiro lugar, atrás dos americanos e dos japoneses. A expectativa de analistas é que ela tenha mantido essa posição no ano passado e passe à frente do rival asiático em 2010.

Se por um lado, o crescimento chinês traz boas perspectivas para a economia mundial, após um ano de crise, por outro, analistas temem uma nova bolha, em especial no setor imobiliário.

Também receiam uma alta da inflação, o que pode levar autoridades chinesas a adotar políticas de aperto monetário, como nova elevação de juros e medidas de contenção da oferta de crédito. A China terminou o ano com deflação de 0,7%, mas os dados de dezembro indicam uma possível mudança de cenário, com alta de 1,9% sobre igual mês de 2008. Em novembro, a alta na mesma base de comparação fora de 0,6%. Os números ajudaram a derrubar mercados na Ásia, nos EUA e no Brasil. Em Hong Kong, por exemplo, a Bolsa caiu 1,9%.

Ironicamente, Xangai subiu 0,22%.

O crescimento de 8,7% em 2009 ficou também acima da expectativa dos analistas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) previa expansão de 8,5%. No quarto trimestre, o PIB avançou 10,7% sobre igual período do ano anterior, pouco abaixo da previsão do mercado de 10,9%, mas superior ao dado revisado para cima de 9,1% no terceiro trimestre. No Brasil, o PIB deve se manter estagnado ou fechar negativo em 2009

Temor de inflação e aperto monetário

O desempenho do quarto trimestre foi impulsionado, em parte, pela fraca base de comparação em 2008, quando a economia sofria com os efeitos da crise financeira mundial, mas reflete também a rápida resposta do governo à turbulência. Em 2009, o governo lançou um plano de incentivo à economia de mais de US$ 580 bilhões, para obras de infraestrutura e construção de casas. Com isso, as vendas no varejo subiram 17,5% em dezembro na comparação anual, ante um avanço de 15,8% em novembro. A produção industrial, por sua vez, cresceu 18,5% em dezembro.

Segundo analistas, os dados mostram que não apenas as exportações, mas também o consumo interno contribuiu para a expansão chinesa em 2009. O cenário é bem diferente do que vive o Japão, que enfrentou forte recessão no ano passado. O FMI estima que o país apresente contração do PIB de 5,4% em 2009, para US$ 5 trilhões. A estimativa em 2010 é que ele se recupere e o PIB avance 1,7%, para US$ 5,187 trilhões. Ainda assim, os japoneses perderiam a viceliderança no ranking das maiores economias do mundo. A China, que em 2000 estava em sexto lugar na lista, passará à segunda colocação este ano, caso a projeção do FMI de alta de 9% do PIB, para US$ 5,263 trilhões, se confirme.

¿O cenário macroeconômico é de continuidade do crescimento e um rápido aumento da inflação. Acreditamos que novas medidas de aperto, além daquelas já anunciadas, são necessárias para controlar a inflação nos próximos meses¿, afirmaram os analistas do Goldman Sachs em Hong Kong Yu Song e Helen Qiao, em relatório distribuído a clientes ontem.

Jing Ulrich, presidente da divisão de commodities do JPMorgan na China, concorda com a avaliação. ¿O primeiro semestre de 2010 será provavelmente caracterizado por uma gradual política de aperto monetário. Preocupações com a entrada de capitais e a saúde do setor de exportações vão limitar o aperto na taxa de juros, mas esperamos ver uma moderação na concessão de crédito dos bancos e o uso das reservas para administrar o volume de suprimento de dinheiro¿, disse Jing no relatório.

A preocupação do governo da China com a inflação transparece em medidas adotadas recentemente. No último dia 7, o banco central chinês elevou a taxa básica de juros pela primeira vez em quase cinco meses.

Cinco dias depois, órgãos reguladores determinaram que bancos estatais ampliassem suas reservas para se precaver contra empréstimos problemáticos.

Analistas não esperavam que essas ações fossem tomadas até o segundo trimestre deste ano.

Um terço vive abaixo da linha de pobreza

Quarta-feira passada, o jornal estatal ¿China Securities Journal¿ publicou reportagem segundo a qual os bancos receberam ordens da Comissão de Regulação Bancária da China para interromper a concessão de empréstimos até o fim de janeiro, pois os limites teriam sido excedidos.

Mesmo com o aperto monetário, a expectativa é que a China mantenha o ritmo de crescimento anual de 9% nos próximos anos. Apesar da expansão da sua economia, o país exibe indicadores sociais ruins. Segundo o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), entre 2000 e 2007, 36% da população viviam com menos de US$ 2 por dia, abaixo da linha de pobreza