Título: Obama anuncia proposta que limita atuação de bancos e mercados reage
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 22/01/2010, Economia, p. 24

Instituições não poderão entrar em operações consideradas arriscadas

NOVA YORK e WASHINGTON. O presidente dos EUA, Barack Obama, voltou ontem a criticar os bancos do país e propôs limitar a atuação das instituições americanas, limitando os tipos de negócios que podem fazer. O argumento do presidente é evitar uma nova turbulência, como a que abalou o mundo em 2007 e jogou o país em sua pior crise desde os anos 30. O mercado, porém, reagiu mal, vendo na proposta uma maior intervenção do Estado na economia. As ações de bancos tiveram fortes perdas em Wall Street.

A proposta de Obama limita a expansão dos riscos de negócios feitos por instituições que lidam com os consumidores americanos.

Bancos comerciais ficam proibidos de controlar, possuir, investir ou mesmo de patrocinar fundos hedge (de alto risco) ou fundos de participações (private equity). Suas operações devem se restringir a serviços ao consumidor.

Obama quer separar os bancos que lidam com depósitos de indivíduos e empresas dos fundos de alto risco.

¿ Grandes bancos causaram grandes danos à economia americana ao perseguir lucros assumindo riscos excessivos. Os consumidores americanos não podem mais ser reféns de instituições que são grandes demais para quebrar. Os contribuintes foram obrigados a ajudar financeiramente grandes instituições, que ainda estão operando segundo as mesmas regras que deixaram o sistema perto do colapso ¿ criticou Obama. ¿ Agora, as instituições financeiras não poderão mais assumir riscos excessivos e expor-se a dívidas através de complexas operações financeiras de investimento especulativo que constituem ameaça a todo o sistema financeiro.

Ações de bancos caem em Wall Street Obama propôs ainda um limite mais abrangente para conter o crescimento excessivo nas carteiras de crédito das maiores empresas financeiras, suplementando a regra já existente de limitação a depósitos. Desde 1994, nenhum banco comercial pode ter mais de 10% de depósitos não segurados pelo Tesouro americano. Agora, o cálculo desse limite de 10% vai incluir outros tipos de ativos, além de depósitos bancários.

A ideia é limitar também o capital disponível para investimento especulativo no mercado.

Obama anunciou as medidas tendo ao lado o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Paul Volker, o ex-presidente da Securities and Exchange Commission (SEC, órgão fiscalizador do mercado financeiro dos EUA) William Donaldson, o presidente do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, Barney Frank, e o presidente do Comitê do Senado para o Setor Bancário, Christopher Dodd, além do secretário do Tesouro, Timothy Geithner.

As propostas, que terão de passar no Congresso, foram criticadas por republicanos e executivos de Wall Street. David Viniar, do Goldman Sachs, classificouas de impraticáveis: ¿ Essa é uma proposta que faz o mercado financeiro voltar no tempo cerca de dez anos.

Douglas Elliott, economista do Brookings Institution, disse que sera preciso atingir um equilíbrio para impedir novas crises: ¿ É preciso reduzir o tamanho dessas instituições para que elas não ameacem o sistema.

Em Wall Street, as ações do Morgan Stanley perderam 4,21%, as do JPMorgan recuaram 6,59%, as do Goldman Sachs caíram 4,1%, e, as do Citigroup, 5,49%. O Dow Jones perdeu 2%, o S&P 500 caiu 1,9%, e o Nasdaq, 1,1%.