Título: Lula fará de Davos vitrine do Brasil
Autor: Beck, Martha ; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 24/01/2010, Economia, p. 26

Desempenho na crise será destaque. Fórum debaterá riscos da economia

BRASÍLIA e PARIS. O governo pretende aproveitar o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) ¿ que reunirá líderes políticos e empresariais em Davos, na Suíça, a partir de quarta-feira, sob o título ¿Pensar, Redesenhar, Reconstruir¿ ¿ para destacar a rapidez com que o Brasil emergiu da maior crise mundial desde 1929 e coroar o discurso de que a solidez do país veio para ficar. Para vender o sucesso nacional estarão no resort dos Alpes o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles.

Mas o centro das atenções será mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que receberá do Fórum o primeiro ¿Prêmio Estadista Global¿.

Trata-se de reconhecimento dos líderes políticos que usam o seu mandato para aperfeiçoar a governança global. O prêmio para Lula vem pouco depois de o presidente ter sido eleito o homem do ano pelo jornal francês ¿Le Monde¿ e o espanhol ¿El País¿, além de apontado como um dos 50 líderes da década pelo inglês ¿Financial Times¿.

O ânimo da delegação brasileira, porém, contrasta com o da maioria dos demais participantes.

A crise financeira e a lenta recuperação mundial, após uma injeção de US$ 5 trilhões em estímulos fiscais, serão a tônica do WEF. Várias questões espinhosas esperam os líderes mundiais: terão os governos se endividado em níveis insustentáveis para combater a crise? Quem corre o risco de quebrar como Dubai? E que países ousarão tirar o pé do acelerador primeiro? Klaus Schwab, diretor-executivo do Fórum, que organiza o evento há 40 anos, alerta: ¿ Como resultado da situação fiscal dos governos, vamos certamente levar as pessoas a um aperto de cinto e teremos aumento do desemprego.

Grécia, Dubai e desemprego são preocupações em Davos Um relatório do Fórum alerta para uma ¿crise da dívida¿ e diz que os riscos são particularmente grandes nos países ricos, como Estados Unidos e Reino Unido.

¿ Na tentativa de estimularem suas economias e de combater a recessão, os governos estão chegando a níveis sem precedentes de dívida, e portanto há um crescimento do risco de insolvência ¿ disse John Drzik, um dos autores do estudo.

Dubai e Grécia são alarmes que têm que ser ouvidos, disse Daniel Hofmann, do Zurich Financial Services, coautor do estudo do WEF. Também preocupam os níveis de desemprego.

A delegação brasileira também contará com o chanceler Celso Amorim e com o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins. A ministrachefe da Casa Civil e provável candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, foi convidada para o Fórum, mas sua ida ainda não está confirmada.

Mantega e Meirelles participarão de painel dedicado exclusivamente à economia brasileira, intitulado ¿Brasil: o que vem depois?¿. Em entrevista ao GLOBO, o presidente do BC mostrouse animado com a perspectiva de só mostrar indicadores positivos, como a expectativa de um crescimento econômico de mais de 5% em 2010. Já Mantega destacará as medidas de incentivo para combater a crise mundial ¿ como R$ 25 bilhões em desonerações tributárias ¿ e lembrará que o Brasil foi um dos primeiros países a sair dela.

O presidente Lula também falará sobre os avanços da economia brasileira, mas espera-se que ele reforce a proposta de organismos internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, de que os países ricos perdoem a dívida externa do Haiti, colocado pelo terremoto devastador no centro das discussões de Davos.

Em reuniões bilaterais, Lula deve voltar a defender a maior participação dos países emergentes nas decisões tomadas pelos organismos multilaterais de crédito. Ele também criticará o protecionismo no comércio externo e destacará as ações que estão sendo tomadas pelo governo brasileiro para mitigar os efeitos do aquecimento global.

Entre os 2.500 participantes, estarão o ex-presidente americano Bill Clinton, que fará uma sessão especial sobre o Haiti, incluída na última hora, o presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak, e o premier canadense, Stephen Harper, que presidirão as reuniões de cúpula do G-20 e do G-8 este ano, respectivamente.

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