Título: Mercado de saúde de R$ 16 bi vai às compras
Autor: Almeida, Cássia ; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 24/01/2010, Economia, p. 27

Foram 27 fusões e aquisições no Brasil em 2009, unindo operadoras, laboratórios e indústrias farmacêuticas

RIO e BRASÍLIA. O setor de saúde corresponde a 8% do Produto Interno Bruto brasileiro, movimenta R$ 16 bilhões por ano e emprega 10% da população brasileira ativa. De acordo com o vice-presidente da Fiocruz, Carlos Gadelha, a previsão é que o mercado da saúde vai explodir no país. Nos últimos dez anos, 20 milhões de pessoas saíram da linha de pobreza, o que aumenta a demanda por serviços de saúde, diz ele. Nesse mercado em expansão, o apetite das empresas não arrefece nem diante da crise financeira que abateu as economias brasileira e mundial no ano passado. Foram 27 operações de fusões e aquisições somente no setor, com valores bilionários ¿ como a compra pelo Hypermarcas do Laboratório de Genéricos Neo Química, por R$ 1,3 bilhão, segundo a PriceWaterhouseCoopers.

¿ A saúde tem um déficit estrutural, e as fusões tendem a crescer este ano, com a economia melhor ¿ disse Alexandre Pieranto, sócio da Price.

Com o mercado ainda muito pulverizado, principalmente no ramo de seguro-saúde e de hospitais e laboratórios de diagnóstico, a tendência é que esse processo se intensifique, segundos os analistas.

Edison Cunha, diretor de Operações da Trevisan, compara o setor no Brasil e nos EUA. Lá, as dez maiores operadoras de planos de saúde concentram 38% do mercado.

Aqui, a parcela é de 25%: ¿ O processo diminui custo e baixa o risco com a base maior de clientes.

Compradas ou fechadas, o número de operadoras vem caindo. Em 2001, havia 2.700.

Em 2009 baixou para 1.700.

BNDES deve liberar R$ 3 bilhões ao setor O Laboratório Fleury, de São Paulo, é o que o mercado classifica como consolidador. Desde 2002, comprou 23 empresas e no ano passado entrou na Bovespa.

Foram R$ 90 milhões de receita que entraram no caixa da empresa com as aquisições de 2009: o Centro de Mastologia do Rio de Janeiro e o Laboratório Weinmann, no Rio Grande do Sul. E as compras vão continuar este ano, afirma o presidente da empresa, Mauro Figueiredo: ¿ As aquisições fazem parte da estratégia de crescimento da empresa.

E a explicação para esse investimento vem do comportamento da economia. Mais especificamente, a geração de emprego formal: ¿ A maior parte dos planos é corporativa. Com a criação de um milhão de vagas formais no ano passado, há mais de um milhão de vidas. É um setor em expansão ¿ diz Figueiredo.

Entre as operadoras, o negócio de R$ 612,5 milhões da compra da Medial (mais de 1,5 milhão de clientes) pela Amil deve manter o mercado mais calmo este ano. Diante do tamanho do negócio, envolvendo duas empresas compradoras, as aquisições devem diminuir, enquanto estiver em andamento a integração, dizem os especialistas.

Segundo Luís Motta, sócio da KPMG Brasil, responsável pela pesquisa de fusões e aquisições, as operações envolvem mais empresas brasileiras, sobretudo entre operadoras de planos e laboratórios.

Até na indústria farmacêutica, metade das operações listadas pela consultoria foi entre fabricantes brasileiras: ¿ Grandes indústrias brasileiras estão indo com apetite neste tipo de transação.

As brasileiras até se aventuraram por terras estrangeiras. A Eurofarma comprou a Quesada da Argentina no ano passado. E dinheiro não deve faltar para o setor, o BNDES deve liberar, até o fim deste ano, R$ 3 bilhões. As subvenções econômicas do Ministério de Ciência e Tecnologia destinadas à saúde, que até 2007 representavam 11% do total, cresceram para 32% em 2008.