Título: Nasce a superpetroquímica
Autor: D¿Ercole, Ronaldo ; Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 23/01/2010, Economia, p. 21

Com a compra da Quattor pela Braskem por R$ 870 milhões, Petrobras avança no setor

ABraskem, controlada pela Odebrecht, anunciou ontem a aquisição do controle da concorrente Quattor por R$ 700 milhões em dinheiro e, em sociedade com a Petrobras, criou a superpetroquímica brasileira, que se tornará a maior fabricante de resinas petroquímicas das Américas e a oitava do mundo. Na operação, a Braskem assumirá ainda a dívida de R$ 6,5 bilhões da Quattor ¿ até então controlada pela Unipar ¿ e um compromisso de até R$ 170 milhões que esta tinha com o BNDES. No total, portanto, a Braskem vai incorporar os ativos da Quattor por R$ 870 milhões mais sua dívida.

A operação amplia a participação da Petrobras no setor, revelando a intenção do governo Lula de aumentar a presença do Estado na economia. Na estimativa de Otávio de Carvalho, diretor da consultoria MaxiQuim, a fatia da estatal no segmento passará dos atuais 30% para 40%, considerando a primeira e a segunda gerações petroquímicas.

Nestas duas etapas do processo produtivo são obtidas as matérias-primas para a indústria de plásticos ¿ a terceira geração ¿, que fabrica de brinquedos a autopeças.

O acordo entre a Odebrecht e a Petrobras, que tinha participações minoritárias na Braskem e na Quattor, começou a ser negociado em meados do ano passado e, após exaustivas discussões, só foi aprovado ontem em reunião do Conselho de Administração da estatal, da qual participaram os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda).

Odebrecht terá 6 postos no Conselho

A operação prevê a reestruturação do capital da Braskem e envolverá um aporte, via emissão de ações, de R$ 3,5 bilhões pelos controladores (R$ 2,5 bilhões da Petrobras, e R$ 1 bilhão, da Odebrecht). Se os acionistas minoritários aderirem à oferta, o valor aportado chegará a R$ 5 bilhões.

¿ Nosso objetivo é nos tornarmos uma das cinco grandes petroquímicas globais ¿ disse o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.

Ele justificou a decisão da estatal de voltar à linha de frente do setor petroquímico, após incentivar a privatização do setor nos anos 90, como um movimento estratégico e em linha com o que ocorre com a indústria no resto do mundo: ¿ Estamos criando uma empresa global, com porte para competir no mercado internacional. Essa movimentação se insere na estratégia de ampliar nossa presença nesse setor.

Carvalho, da MaxiQuim, corrobora a avaliação de Gabrielli: ¿ Os produtores de petróleo e as petroquímicas estão se juntando para obter sinergias e ganhos de escala. De um lado, os produtores de petróleo investem em refinarias. Do outro, as petroquímicas vendem para o exterior produtos de maior valor agregado.

Hoje, entre 70% e 80% do custo das petroquímicas são as matériasprimas.

No Brasil, a Petrobras é a única fornecedora de nafta, insumo usado pela primeira geração.

De acordo com o presidente da Braskem, Bernardo Gradin, a expectativa é que em 120 dias todo o processo de reorganização do capital da companhia esteja concluído. A absorção das dívidas da Quattor ¿ um dos motivos de seus controladores, a família Geyer, terem concordado em vendê-la ¿ não compromete a estrutura de capital da Braskem. Segundo Gradin, a dívida líquida da empresa subirá para R$ 12,5 bilhões: ¿ A estrutura de capital traz uma dívida alta, mas também uma liquidez financeira sólida suficiente para sustentar os próximos passos da companhia.

Para atravessar a fase de reestruturação do capital da empresa será criada a BRK Investimentos, holding que reunirá as ações da Odebrecht e da Petrobras na Braskem e na Quattor.

Objeto das últimas discussões, que provocou o adiamento do fechamento do negócio por semanas, a distribuição dos postos estratégicos na nova Braskem está definido. O Conselho de Administração terá 11 membros, dos quais a Odebrecht escolherá seis, inclusive o presidente; a Petrobras, quatro, e os minoritários, um. Na gestão da empresa, a Odebrecht indicará o diretorpresidente, e a Petrobras, o vice, além da diretoria de Investimentos. A diretoria financeira, que a estatal queria, será indicada pelo grupo baiano.

¿ A operação será positiva para o Brasil a médio e longo prazos. A curto prazo, há o preço do monopólio ¿ ressalta Carvalho.

Em resposta a essa preocupação, Gabrielli argumentou que este é um mercado em que os produtos cada vez mais são commodities, negociados em nível global. E que a empresa terá fatia de 3% a 4% no mercado mundial.

Alberto Geyer: `Vou melar o negócio

Segundo o gestor da Hera Investimentos, Mauro Giorgio, o negócio já era mais que esperado: ¿ O negócio vai ser bom porque se trata de um setor muito importante.

É uma das maiores cadeias produtivas do Brasil. Só não gostamos do fato de 49% do negócio ficarem nas mãos do governo.

Gradim lembrou que a indústria nacional do plástico já importa entre 20% e 25% dos insumos petroquímicos consumidos no país: ¿ Essa é uma indústria de longo prazo, se não tivermos estrutura financeira e compromisso com o país de longo prazo, podemos viver casos como o do México e de países na Ásia, que tiveram a indústria petroquímica estagnada no meio do caminho.

Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras subiram ontem 1,22%, diante de um movimento de recuperação após fortes quedas. Os da Braskem perderam 2,30%, mas ao longo de 2009 subiram 153,70%. As ações da Quattor ganharam ontem 6,31%.

O empresário Alberto Geyer, dono de 24% das ações da holding que controla a Quattor, continua contrário ao negócio ¿ que chama de ¿monopólio prejudicial¿ ¿ e promete seguir lutando na Justiça.

¿ Vou melar o negócio.