Título: Brasil quer doar mais US$15 milhões em ajuda
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 23/01/2010, O Mundo, p. 33
Governo haitiano suspende oficialmente a busca por sobreviventes. Número de mortos passa de 120 mil
O CHANCELER Celso Amorim abraça o tenente-coronel Azevedo, um dos sobreviventes brasileiros retirados de escombros após o terremoto, ao chegar à Base General Bacellar, em Porto Príncipe
PORTO PRÍNCIPE. O chanceler Celso Amorim fez ontem uma visita ao Haiti e afirmou que o Brasil estuda doar mais US$15 milhões em ajuda humanitária, além de igual quantia que já fora anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada. Segundo Amorim, dos US$15 milhões iniciais com que o Brasil se predispôs a ajudar, US$5 milhões já estariam em poder da ONU. O ministro também disse que na conversa que manteve com o primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, anunciou a intenção do Brasil de ajudar o Haiti a recompor seu governo. E ofereceu, ainda, a possibilidade de o Brasil colaborar na formação de quadros administrativos.
Ontem, a ministra da Comunicação, Marie-Laurence Lassegue, afirmou que 120 mil corpos foram coletados sob coordenação das autoridades do país ¿ número que não inclui as vítimas enterradas por familiares:
¿ Estamos no momento indo às funerárias para contar a quantidade de mortos, e isso pode elevar o número de vítimas em dezenas de milhares.
O chanceler Amorim desembarcou em Porto Príncipe por volta das 8h (hora local) e encontrou representantes de organismos como a Organização dos Estados Americanos (OEA), o Fundo Popular da ONU e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Na reunião com o premier haitiano, Amorim reiterou a disposição do Brasil em ajudar na reconstrução do país.
¿ Vamos participar de várias maneiras desse esforço. Como vocês bem sabem, o Brasil já vinha participando da construção de barragens e de estradas ¿ disse o ministro, que ontem voaria para Montreal, no Canadá, a fim de participar, amanhã, de uma reunião do comitê doador.
Presidente é empurrado após enterro de arcebispo
Segundo Amorim, o governo brasileiro quer fazer os haitianos perceberem que o governo por eles eleito está atuando.
¿ Na conversa com o primeiro-ministro, reiterei o desejo brasileiro de ajudar na reconstrução do próprio governo haitiano. É muito importante que haja essa percepção de que o governo haitiano está em controle da situação ¿ afirmou, negando que as ações do Brasil no país pretendam reforçar sua liderança na região. ¿ Ao contrário do que a mídia pode pensar, o Brasil não está preocupado com liderança regional, mas sim em ajudar o Haiti, com respeito aos mandatos internacionais e com respeito ao governo do Haiti.
Amorim não quis avaliar como está o trabalho de doação de alimentos e água. Há muita reclamação da população a respeito da demora na entrega:
¿ Não tenho condições de avaliar ainda. O que eu ouço em geral é que tem havido melhora, embora ainda haja muitos gargalos. Mas, enfim, a ajuda está chegando, os problemas estão sendo vistos.
Ao divulgar a suspensão pelo governo dos trabalhos de resgate, a ONU informou que os esforços, agora, se concentrarão em ajudar feridos e desabrigados.
¿ Mas isso não significa que o governo determinará que os times de resgate parem de agir. Caso haja algum sinal de vida, eles entrarão em ação ¿ disse a porta-voz da ONU para ajuda humanitária, Elisabeth Brys.
Ontem, um homem de 23 anos foi encontrado, em bom estado de saúde, nos escombros de uma quitanda.
Ontem, cerca de mil pessoas se reuniram para o funeral do arcebispo de Porto Príncipe, Joseph Serge Miot, morto na catástrofe. Ao deixar o local, o presidente do país, René Préval, foi empurrado e teve seu carro cercado por haitianos revoltados com a lenta entrega de ajuda.