Título: Dólar já sobe 8% e atinge R$ 1,836 com China
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 27/01/2010, Economia, p. 23

Saldo estrangeiro na Bolsa fica negativo em R$ 583 milhões em janeiro. Brasil voltará a ter maior juro real do mundo

RIO, PEQUIM e NOVA YORK. O aumento da aversão aos mercados de risco, como o de ações ¿ especialmente dos países emergentes, com a perspectiva de que a China eleve juros e restrinja o crédito, estourando uma eventual bolha no país ¿, fez o dólar ter ontem uma nova escalada. No Brasil, a moeda subiu pelo sexto dia e fechou a R$ 1,836, em alta de 0,88%, na maior cotação desde 9 de setembro. A divisa já sobe 8% desde a sua mínima, no ano passado, a R$ 1,70. No ano, a alta é de 5,46%.

O Banco Popular da China (banco central) pediu aos bancos que precisavam aumentar o depósito compulsório (parcela que fica depositada no BC) para implementarem a medida ontem.

Na semana passada, o BC pedira a algumas instituições que elevassem o compulsório em 0,5 ponto percentual. Além disso, vários bancos estatais chineses determinaram que algumas de suas filiais suspendam novos empréstimos até o fim de 2010, sugerindo um esforço coordenado para conter a oferta de crédito neste início de ano.

Um motivo para a valorização do dólar, no Brasil e no mundo, é a saída dos investidores estrangeiros dos mercados de ações de países emergentes. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o saldo externo chegou a ficar positivo em quase R$ 1 bilhão no ano, mas agora, até o dia 21, está negativo em R$ 583 milhões.

Empresas adiam planos de novas ofertas públicas

O saldo externo na Bovespa não fecha um mês no vermelho desde junho de 2009, quando R$ 1,093 bilhão deixou a Bolsa. Ainda assim, no ano passado ficou positivo em R$ 20,596 bilhões.

¿ A incerteza com relação à China traz muita volatilidade, e o investidor volta um pouco para casa e para aplicações em dólar ¿ avalia o gestor de renda fixa da Global Equity, Octavio Vaz.

Mas ele lembra que a diferença de juros internacionais ainda é favorável ao real. Se o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) mantiver inalterada a taxa básica Selic em 8,75% ao ano, na reunião de hoje, o Brasil volta a ter o maior juro real (descontada a inflação) do mundo, de 4% ao ano, segundo levantamento da UpTrend Consultoria.

Até então, o país perdia para a China, mas, com a alta da inflação, esta desceu para a terceira posição, com taxa anual de 3,3%, atrás da Indonésia (3,6%).

Para o economista Fabio Knijnik, do BES Investimento, é possível que o BC comece a elevar a taxa básica de juros a partir de abril ou até em março. Para ele, seria uma medida preventiva.

Ontem, o Índice Bovespa (Ibovespa) teve o quarto dia seguido de queda: recuou 1,05%, para 65.523 pontos. Somente em janeiro a Bolsa já perdeu 4,47%, ou dois meses de ganho, pois voltou à pontuação do começo de novembro.

Os destaques de alta foram as ações das elétricas Cemig, Eletropaulo e Cesp, com ganhos de 3,55% a 4,79%. Segundo Hersz Ferman, economista da Um Investimentos, a procura é comum num momento de incerteza, pois o setor paga bons dividendos. Em Nova York, o índice Dow Jones caiu 0,03%, e o eletrônico Nasdaq, 0,32%.

Com a mudança do cenário, as empresas começam a adiar seus planos de fazer ofertas de ações para captar recursos.

No dia 21, a M. Dias Branco suspendeu por 60 dias o processo de análise da sua oferta.

Ontem, a Metalfrio comunicou o cancelamento da sua oferta anunciada em dezembro.

COLABOROU Juliana Rangel, com agências internacionais