Título: China vira potência científica
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Fonte: O Globo, 27/01/2010, Ciencia, p. 30

País pode ultrapassar EUA em 2020. Pesquisa do Brasil também se destaca Nas últimas três décadas nenhum país apresentou um crescimento da produção científica tão grande quanto a China. E se continuar nesse ritmo, em dez anos a China ultrapassará os Estados Unidos e será a maior potência científica do mundo. Uma análise do desempenho das quatro principais nações emergentes ¿ Brasil, China, Índia e Rússia (o grupo dos Bric) ¿ realizada pela Thomson Reuters mostrou ainda um expressivo aumento da ciência brasileira e a decadência da Rússia.

A Thomson Reuters indexa estudos publicados em 10.500 revistas científicas e fez a análise sob encomenda do jornal britânico ¿Financial Times¿. Segundo a Thomson Reuters, em 30 anos o Brasil fez ¿um esforço formidável¿ para aumentar o desenvolvimento científico e se destaca hoje principalmente nas áreas de ciências da vida (biologia e medicina) e agrícola.

O desempenho do Brasil foi considerado ¿poderoso¿, em contraste com o lento avanço da Índia e o declínio da Rússia após o colapso da União Soviética.

¿ A China está bem à frente do grupo ¿ disse ao ¿Financial Times¿ James Wilsdon, diretor de política científica da Royal Society, em Londres, e um dos autores da análise. ¿ O desempenho chinês na área científica ultrapassou todas as expectativas que tínhamos há quatro ou cinco anos, enquanto a Índia, por exemplo, não avançou o esperado e parece ter perdido uma oportunidade.

Para os analistas, três fatores contribuem para o avanço chinês.

O primeiro é o grande investimento do governo em pesquisa, em todos os níveis de ensino, do fundamental à pós-graduação. O segundo é o fluxo organizado e direcionado do conhecimento, da ciência básica às aplicações comerciais.

Por fim, o relatório ressalta a forma eficiente e flexível com que as autoridades lidam com a ida de cientistas para Estados Unidos e Europa, fechando acordos para que passem parte do ano no país e o restante no Ocidente.

Numa comparação com o desempenho chinês, o relatório mostra que a evasão científica também atinge a Índia, mas com outras consequências.

Os cientistas indianos de alto nível que voltam para a Índia se dedicam, na maioria, ao setor comercial. Mesmo a maior instituição científica, o Instituto Indiano de Pesquisas (IIT, na sigla em inglês), tem dificuldade para recrutar pesquisadores de alto nível.

O relatório ressalta que embora a qualidade das pesquisas produzidas na China ainda seja irregular, o país procura cada vez mais a colaboração com outros centros, o que pode ser confirmado pelo fato de que 9% dos estudos originários da China têm, pelo menos, um coautor dos Estados Unidos.

¿ A qualidade ainda é irregular, mas os chineses têm tido incentivos para produzir cada vez mais pesquisas de qualidade ¿ assegura Jonathan Adams, um dos diretores da Thomson Reuters.

O relatório ressalta a excelência da pesquisa brasileira em áreas como saúde, agricultura e meio ambiente, destacando também o papel do país como líder no uso de biocombustíveis.

Já China, Índia e Rússia se voltam principalmente para engenharias, ciências físicas e químicas.

Rússia amarga decadência

Em 2009, uma avaliação feita pela National Science Indicators (NSI), uma das maiores bases de dados científicos do mundo, já mostrava que o Brasil tinha atingido o 13º lugar na classificação global em produção científica em 2008, duas acima da colocação obtida em 2007. O resultado colocava o país à frente de nações como Rússia (15º) e Holanda (14º).

Em 1981 a produção científica brasileira equivalia a um sétimo da indiana. Em 2008, porém, os números eram quase iguais, comprovando o avanço do país. No mesmo ano, o Brasil produziu mais pesquisas do que a Rússia.

Há 20 anos, a Rússia era considerada uma superpotência científica, produzindo mais estudos que China, Brasil e Índia juntos. Hoje, o país que lançou o primeiro satélite (Sputnik, em 1957) e levou um ser humano pela primeira vez ao espaço (Yuri Gagarin, em 1961) ficou para trás até em ciência espacial, por falta de recursos, problemas políticos e fuga de cérebros.