Título: Dólar tem sétima alta seguida, para R$ 1,859, e já avança 10% em 3 meses
Autor: Frisch, Felipe ; Schreiber, Mariana
Fonte: O Globo, 28/01/2010, Economia, p. 22

Bolsa recua pelo 5o- pregão consecutivo e volta ao patamar de novembro

RIO, BRASÍLIA e NOVA YORK. O dólar comercial subiu ontem pelo sétimo pregão seguido, reforçando o movimento de valorização causado pelo aumento da aversão ao risco nos mercados de ações. A cotação da moeda americana, que chegou a bater R$ 1,868, fechou com alta de 1,25%, para R$ 1,859, maior patamar desde o dia 3 de setembro de 2009. No ano, a divisa acumula valorização de 6,66%.

Desde o dia 4 de janeiro, quando a moeda atingiu a cotação mínima no ano (R$ 1,720), o dólar sobe 8,08%. Em relação à cotação de R$ 1,700 registrada em 15 de outubro, a alta é de 9,88%.

As medidas que vêm sendo adotadas pelo governo chinês para frear a expansão do crédito, além da expectativa de maiores limites à atuação dos bancos nos EUA, provocaram também nova queda na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que recuou pelo quinto pregão seguido. O Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro, fechou com queda de 0,69%, a 65.070 pontos, depois de chegar a recuar 1,48% no dia. Nos últimos cinco pregões, a Bovespa caiu 7,43%, retornando ao patamar do início de novembro. No ano, a Bolsa acumula queda de 5,13%.

¿ O governo chinês reagiu à crise com agressividade e agora, diante de temores de insolvência de bancos e de aceleração da inflação, coloca o pé no freio. O problema é que, com tantos estímulos adotados no mundo, não se sabe qual a demanda real da economia. A redução da liquidez preocupa os investidores ¿ o estrategista da Pentágono Asset, Marcelo Ribeiro.

Diante disso, a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) ontem de manter a taxa básica de juros entre zero e 0,25% ao ano ainda por um longo período serviu de alívio aos mercados. Após o anúncio, a Bovespa reduziu o ritmo de perdas, e as bolsas americanas mudaram de rumo, fechando em alta. O Dow Jones avançou 0,41%, o Nasdaq, 0,80% e o S&P 500, 0,49%.

Nesse início de ano, o real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo, tendo perdido, até ontem, 6,03% de seu valor frente ao dólar. Na sequência, vêm o dólar neozelandês, com perda de 2,24%, e o euro, com desvalorização de 2,08%. Para o diretor de Câmbio da NGO Corretora, Sidnei Nehme, a liderança do real é natural: ¿ Da mesma forma que o real foi a moeda que mais se valorizou no ano passado, agora é a divisa que mais se desvaloriza ¿ diz o executivo.

Em 2009, o real se valorizou 34,06%. O euro subiu 2,61%.

CMN deve aprovar medida para monitorar derivativos Para o gerente de câmbio do Banco Prosper, Jorge Knauer, o fortalecimento do dólar nos últimos dias não configura uma tendência de longo prazo.

¿ O aumento da aversão ao risco nos mercados leva os investidores estrangeiros a vender ações. Com isso, eles compram dólares para remeter recursos para fora, o que pressiona o real ¿ afirmou Knauer. ¿ Além disso, a balança comercial está negativa em janeiro, o que contribui para o enfraquecimento da moeda brasileira.

O fluxo cambial ¿ entrada e saída de moeda estrangeira no país ¿ voltou a perder força semana passada, informou ontem o Banco Central. Entre os dias 1oe 22, o superávit estava em US$ 10 milhões, após chegar a US$ 816 milhões nas duas primeiras semanas de janeiro.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) deve aprovar hoje mais uma medida para melhorar o monitoramento do mercado de derivativos atrelados ao câmbio.

Agora, as empresas que fizerem operações de proteção ¿ ou hedge, no jargão do mercado ¿ no exterior terão de registrá-las em câmaras de compensação antes. Isso vale, por exemplo, para aquelas operações que envolvam o mercado de futuros lá fora: para a empresa enviar recursos para pagar as margens da operação ou entrar no país com eventuais ganhos, terá necessariamente de registrar a operação antes. A medida valerá a partir de março, e não será retroativa.

COLABOROU: Patrícia Duarte, com agências internacionais