Título: Cemig, de Minas, já é a maior acionista da Light
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 31/12/2009, Economia, p. 21

Estatal, que tem 13% da distribuidora carioca, pagará R$ 785 milhões a Andrade Gutierrez por mais 13% do capital

A Cemig, estatal de geração, transmissão e distribuição de energia do estado de Minas Gerais, governado pelo tucano Aécio Neves, assinou ontem um contrato em que fechou a compra de 13,03% do capital total da Light, distribuidora privada de energia que atende 31 municípios do Estado do Rio de Janeiro. As ações, que pertenciam à Andrade Gutierrez Concessões (AGC), da Construtora Andrade Gutierrez, serão compradas pelo valor de R$ 785 milhões. Com a aquisição, a Cemig ¿ que já detinha outros 13,03% do capital da Light ¿ se torna a maior acionista da distribuidora fluminense, com um total de 26,06%.

Até então, o controle da Light estava nas mãos da Cemig, da Andrade Gutierrez Concessões, além dos fundos Equatorial e Luce, cada um com 13,03%. Também detém capital da Light a BNDESPar (23,41%) e o mercado (23,47%). Cemig, AGC, Equatorial e Luce faziam parte da Rio Minas Energia (RME), consórcio que será extinto com o objetivo de abrir espaço para a reorganização societária da distribuidora do Rio.

Um outro contrato assinados ontem, com a Equatorial, prevê, numa etapa futura, a criação de um fundo de investimentos por meio de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE). Esse fundo, da qual participará a Cemig, vai comprar ainda parte das ações hoje em poder do Equatorial. O percentual que ficará nas mãos da Cemig ainda não foi definido, mas sabe-se que ele será tal que não permita que a estatal mineira tenha mais de 50% do capital da Light. A ideia é não permitir que a Light seja ¿reestatizada¿.

Consumidor da Light deve ser beneficiado Um executivo que acompanhou as negociações confirma que a complexa engenharia financeira da reorganização societária é justamente para evitar que a Cemig passe a deter o controle da Light, 14 anos depois de sua privatização. O risco existe, uma vez que o BNDES tem cerca de 24% do capital da Light.

Os acionistas já estão discutindo formas de evitar que a Cemig exerça também total controle nas decisões operacionais da Light. Isto porque, com a compra da parte da AGC, a Cemig já é a maior acionista da distribuidora.

Segundo analistas, a Andrade Gutierrez não tem como foco manter nem expandir suas atividades de distribuição de energia. Já a Cemig tem como estratégia aumentar sua atuação no setor energético em todo o país. A distribuidora de Minas Gerais já atua em 19 estados brasileiros e Distrito Federal, além do Chile.

Segundo uma fonte do setor e especulações do mercado, a companhia mineira pretende investir na compra também da Ampla, a outra distribuidora de energia no Estado do Rio, que atende, entre outros municípios, Niterói.

Na avaliação de Edson Mothé, professor do Ibmec, a maior participação da Cemig na Light pode trazer benefícios para o consumidor do Rio.

mdash; A Cemig tem se mostrado uma empresa mais eficiente do que a Light. Para o carioca, que sofreu com apagões, pode haver vantagens. Ao ser mais eficiente na prestação dos serviços, o primeiro ganho é na melhoria no atendimento. O segundo pode ser em preços menores ¿comentou.

De acordo com Mothé, o setor de energia não tem uma forte concentração, bem diferente do que se vê no varejo brasileiro, por exemplo. Mas ele lembra que o consumidor precisa se habituar a movimentos de aquisições e fusões no mercado.

A Light é distribuidora de energia elétrica em 31 municípios do Estado do Rio, incluindo a região Metropolitana, com um total de 3,9 milhões de clientes.

COLABOROU: Fabiana Ribeiro