Título: Debate sobre negócios com Haiti mobiliza Davos
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 29/01/2010, O Mundo, p. 30

Bill Clinton faz apelo por investimentos no país durante Fórum Econômico e elogia atuação do Brasil na catástrofe

DAVOS. A cidade de Davos, na Suíça, onde até domingo estará concentrado o maior número de ricos e poderosos por metro quadrado do planeta, mergulhou ontem na miséria do Haiti. Embalados por um apelo do ex-presidente americano Bill Clinton, empresários de várias áreas e países começaram a debater, pela primeira vez, oportunidades de negócios: discutiram em que áreas podem investir no país destruído pelo devastador terremoto do último dia 12.

Bill Clinton começou o apelo pelo Haiti rasgando elogios ao Brasil diante de uma plateia lotada de políticos e chefes de empresas. Virando-se para o ministro de Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, o ex-presidente disse: ¿ Eu acho que o Brasil está sendo magnífico. Estamos gratos a você e a seu país.

Amorim defende queda de barreiras comerciais Até o megainvestidor de Wall Street George Soros se comprometeu a investir no Haiti, segundo anunciou Clinton.

O ex-presidente citou ainda o caso de Ruanda, que conseguiu se reerguer poucos anos depois de um genocídio.

¿ Esta é uma oportunidade para reimaginar o futuro do povo haitiano, construir (o Haiti) que eles querem, e não o que era (antes do terremoto) ¿ disse o ex-presidente dos EUA, descrevendo cenas de penúria no país atingido pelo terremoto e fazendo um novo pedido de ajuda. ¿ Precisamos de cem caminhões para ontem! Amorim, por sua vez, disse que o dinheiro precisa entrar rápido no Haiti para criar empregos, pois jovens estão partindo por temer falta de oportunidades.

Ele reafirmou a disposição do Brasil, mas também dos Estados Unidos, em diminuir barreiras ao comércio a fim de facilitar a importação de produtos do Haiti.

O chanceler arrancou aplausos quando pediu que todos os países façam o mesmo: liberar todos os produtos haitianos de cotas e tarifas aduaneiras. Ele citou a produção de biocombustíveis no Haiti ¿ além da produção de alimentos e do plantio de florestas ¿ como uma das possibilidades de negócio para empresas brasileiras. Segundo ele, várias empresas têxteis do Brasil querem investir no país.

O Fórum de Davos instalou uma espécie de quiosque só para empresários discutirem oportunidades de negócios no Haiti.

Logo após o discurso, o movimento no local foi intenso: vários interessados foram discutir novos investimentos com uma equipe de Clinton e do Fórum.

Enquanto isso, Helen Clarck, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), debatia com participantes do Fórum os próximos passos. O desafio agora, segundo ela, é manter a mobilização da comunidade internacional.

Empresários membros doaram milhões de dólares para ajudar o Haiti, disse o diretor-executivo do Fórum, Robert Greenhill: ¿ Não estamos pensando no curto prazo. Buscamos um engajamento a longo prazo. Empresários estão se dando conta de que, além de um papel caritativo, têm um papel em ajudar a construir economias.

Mas algumas organizações não governamentais, como a Transparência Internacional, advertem que empresários devem ficar alerta ao fazer negócios num país onde corrupção é grande.

¿ Pode haver bilhões de dólares indo para o Haiti, mas uma parte do dinheiro sequer chega à população: sai do país no minuto em que chega ¿ alertou Huguette Labelle, diretora da ONG.

Brasil e Irã discutem questão nuclear O chanceler do Irã, Manoucher Mottaki, saiu ontem de um encontro de uma hora com Celso Amorim dizendo que discutiu ¿novas ideias¿ sobre seu controverso programa nuclear ¿ temido pelo Ocidente.

Mottaki afirmou que Brasil e Irã têm posições comuns sobre ¿o uso pacífico de energia para todos os (países) membros do Tratado de Não Proliferação Nuclear e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)¿. Já Amorim reafirmou a posição do Brasil em favor do diálogo: ¿ Ameaças e sanções não têm funcionado. Temos mantido com eles (Irã) um diálogo