Título: Hillary resiste a pressão latina
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Fonte: Correio Braziliense, 03/06/2009, Mundo, p. 16

Reintegração de Cuba, defendida por 26 países, causa impasse na Organização dos Estados Americanos. Washington cobra democracia.

O primeiro dos dois dias da Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) mostrou que alcançar uma decisão conjunta sobre Cuba, suspensa do grupo desde 1962, não será nada fácil. Diante da pressão do bloco latino-americano, a secretária de Estado Hillary Clinton reafirmou que Washington se opõe firmemente à volta de Havana, a não ser que o regime ¿adote reformas democráticas¿. Já o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, propôs já neste encontro que a OEA ¿repare a infâmia¿ cometida durante a Guerra Fria. Em tom mais conciliador, o secretário-geral da organização, José Miguel Insulza, pediu um ¿consenso¿. E foi do ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, a proposta que foi aceita pelos demais chanceleres ¿ a formação de um grupo de trabalho para discutir a questão de Cuba durante a assembleia.

¿Não sei se teremos uma solução, mas certamente temos de tentar¿, disse Amorim em San Pedro Sula, no interior hondurenho. Nos últimos dias, uma comissão formada por diplomatas da região que atuam na OEA fracassou na tentativa de aprovar uma resolução conjunta sobre o tema. O principal ponto de divergência se dá entre EUA, que condicionam uma mudança no status de Cuba a garantias de que o país se tornará uma democracia, e países como Venezuela, Nicarágua e Equador, que exigem a readmissão incondicional de Cuba.

O grupo de trabalho deverá se concentrar no projeto do governo hondurenho, considerado mais moderado, que propõe que as futuras relações entre Cuba e a OEA sigam dependendo da ¿vontade expressa¿ de Havana. O presidente cubano, Raúl Castro, e seu irmão e antecessor, Fidel, rejeitaram várias vezes o retorno de Cuba à organização. Há um projeto dos EUA, que pede o respeito pleno aos direitos humanos e liberdades fundamentais na ilha antes de qualquer decisão. O texto da Nicarágua declara a suspensão de Cuba, há 47 anos, ¿um ato de injustiça¿. Ao todo, 26 dos 34 países-membros da OEA defendem a revogação imediata.

Zelaya, que discursou na abertura do encontro, justificou que é preciso voltar atrás da suspensão imposta a Cuba, porque ¿puniu um povo inteiro por ter proclamado ideais e princípios socialistas¿, já que eles ¿hoje se praticam em todas as partes do mundo, incluindo os Estados Unidos¿. Segundo o presidente hondurenho, a assembleia não pode terminar ¿sem reparar a infâmia contra um povo, ao qual a grande democracia americana, baseando-se nessa resolução, manteve cercado com um bloqueio inútil¿. Havana foi afastada da OEA porque seu regime ¿marxista-leninista¿ era considerado ¿uma ameaça ao continente¿.

Sutil Insulza, por sua vez, tentou não causar ainda mais conflitos sobre o tema. ¿Queremos progredir e deixar para trás um passado que para muitos não é positivo, mas não a custo de cair de novo em divisões. Nos últimos anos, funcionamos sempre melhor e de maneira mais harmônica com essa regra¿, ponderou. ¿Não tenhamos problemas para discutir o tema, (mas) coloquemos à frente a vontade de alcançar consensos¿, disse o secretário-geral aos representantes de todos os países da OEA. Hillary, no entanto, afirmou que os EUA continuam ¿esperando o dia em que uma Cuba democrática retorne ao sistema interamericano¿. ¿Até lá, vamos procurar outros meios para engajar Cuba, meios que beneficiem as duas nações e o continente¿.