Título: Dilma: Eu gostaria muito que me escolhessem sucessora de Lula
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 30/01/2010, O País, p. 4

Em discurso, ministra trata de assuntos que vão de drenagem a educação

JACUTINGA (MG). Num discurso em que prometeu a construção de ¿outras tantas mil creches¿, investimento para o combate a enchentes e revolução na educação, a ministrachefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à sucessão presidencial, não usou ontem meias palavras para falar de seu interesse em suceder ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora com a ressalva de que ainda não é candidata oficial do PT, Dilma aproveitou a inauguração do gasoduto da Petrobras que abastecerá as cidades do sul de Minas Gerais, em Jacutinga, para fazer campanha em torno de seu nome.

Dessa vez, sem Lula ao lado.

¿ Acho que o presidente Lula tem de ter um sucessor à altura do governo dele. Eu gostaria muito que me escolhessem como essa sucessora ¿ disse ela, em entrevista para jornalistas, depois dos discursos.

A ministra chegou ao local de helicóptero, cercada por assessores e acenando para uma plateia que a recepcionou aos gritos de ¿Dilma presidente¿.

Praticamente ignorando os assuntos relativos ao evento, Dilma pontuou o discurso de quase meia hora com temas que pareciam agradar mais aos ouvidos de quase 20 prefeitos que acompanharam a cerimônia.

¿ Prefeito, aqui tem alagamento? Porque temos tido um investimento do governo federal em drenagem, que aliás não recebe investimento há muito tempo.

Estamos procurando ampliar as áreas que podem receber investimento em drenagem. Existe chuva? Existe! Mas a gente não pode se conformar ¿ disse ela, já no discurso, e sob aplausos efusivos dos prefeitos da região.

Sem palpite sobre vice

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), não compareceu ao evento.

Justificando que o presidente Lula gostaria que ela não falasse apenas do gasoduto, Dilma levou a questão das creches para o palanque de uma hora para outra, interrompendo um raciocínio a respeito da obra do PAC pela qual ela estava na cidade.

¿ O presidente gostaria que eu falasse aqui da questão das creches. Vamos dar um salto de qualidade com o PAC-2, construindo tantas outras mil creches, e com isso vamos reestruturar uma grande revolução na educação ¿ emendou a pré-candidata petista, reafirmando, porém, que a escolha do candidato petista para disputar a corrida presidencial só acontecerá entre os dias 18 e 20 de fevereiro, no congresso nacional da legenda.

Perguntada sobre o discurso ter evoluído para outros temas, a maioria de cunho social, Dilma justificou: ¿ Dentro do que eu acho que é do interesse das pessoas, isso (a inauguração do gasoduto) faz parte de um quadro geral. Não está sozinho ¿ disse ela.

Indagada sobre as brigas internas do PT a respeito da indicação do deputado federal Michel Temer (PMDB) para vice, Dilma evitou polemizar: ¿ Não dá para colocar a carroça na frente dos bois. Essa é uma questão formal, partidária.

Só quando concluído o congresso nacional (do PT) é que teremos um candidato. Como eu vou dar palpite agora? Ainda no discurso, Dilma lembrou da perspectiva de o Brasil tornar-se a quinta economia mundial. Novamente, popularizou sua fala: ¿ O Brasil pode ser a quinta economia do mundo, atrás apenas da China, EUA, Índia e Japão.

Mas aí eu pergunto: é possível olhar o país só olhando o Carlos Rhienck/ Hoje em Dia SORRIDENTE, Dilma inaugura obra do PAC, um gasoduto que vai transportar gás natural para o Sul de Minas PIB? Um país não é a quinta potência se não tivermos desenvolvimento social. As pessoas têm de ter acesso às riquezas básicas ¿ disse Dilma.

E seguiu: ¿ Nós seremos a quinta potência, mas o povo não é a quinta potência. E o que nos interessa é tornar o nosso povo a quinta potência.

Ao lembrar o teor do discurso que o presidente Lula faria no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, ela voltou a elogiar o povo brasileiro. Lula não foi por decisão médica, depois de uma crise hipertensiva.

¿ No discurso que o presidente mandou para Davos para ser lido pelo ministro Guido Mantega e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ele diria: ¿Esse prêmio não é meu, não é dado a mim, Luiz Inácio Lula da Silva, mas para o povo que se esforçou e ajudou a combater a crise¿ ¿ disse