Título: Da CPI para as urnas
Autor: Pereira, Daniel; Rocha, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 05/06/2009, Política, p. 2

A um ano e cinco meses das eleições de 2010, a CPI da Petrobras poderá se tornar um importante teste do cacife eleitoral para os integrantes da comissão. Entre os 11 senadores que são titulares, oito encerram o mandato no próximo ano. Para continuarem como políticos, seja no Senado ou em outro cargo eletivo, os parlamentares terão obrigatoriamente que passar pelo teste das urnas.

Reservadamente, os políticos apostam na CPI como uma vitrine para a corrida eleitoral. Mas o retrospecto de deputados e senadores que atuaram nas últimas comissões de inquérito aponta para um resultado duvidoso em termos de dividendos eleitorais.

Entre os titulares em fim de mandato, três dos oito senadores devem concorrer à reeleição. São eles: o líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR), o ex-líder do PMDB Valdir Raupp (RO) e o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE). Outros dois, a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC), e Marcelo Crivella (PRB-RJ) oscilam entre disputar o governo do estado ou disputar o Senado. Tal definição vai depender do cenário estadual. Já os três suplentes de senador que são titulares na CPI ainda não definiram estratégias: Jefferson Praia (PDT-AM), Paulo Duque (PMDB-RJ) e ACM Junior (DEM-BA).

¿Se o parlamentar quiser usar a CPI para fazer palanque sem trabalhar, está fadado ao fracasso. Mas, se ele estiver disposto a fazer um trabalho sério pode colher, sim, resultados eleitorais¿, disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do pedido de criação da comissão. Também integrante da CPI dos Correios, Dias reelegeu-se em 2006 e é um dos três titulares que ficam na Casa até 2014. Ele e Fernando Collor (PTB-AL) pretendem se candidatar aos governos estaduais. O senador João Pedro (PT-AM), suplente do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), não traçou o futuro político.

Numa comissão de inquérito, segundo os parlamentares, senadores de oposição ou da base aliada que adotam uma postura independente em relação governo podem colher futuramente votos nas urnas. Mas nem sempre isso ocorre. O senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI dos Correios, não conseguiu se eleger ao governo de Mato Grosso do Sul em 2006. Também amargaram derrotas o presidente e o relator da CPI dos Sanguessugas, senador Amir Lando (PMDB-RO) e deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), respectivamente. A ironia é que cinco parlamentares envolvidos com o esquema da máfia das ambulâncias, investigados pela CPI, se reelegeram.

Por conta do fantasma eleitoral, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) rejeitou por duas vezes o convite do líder do PMDB, Renan Calheiros, de ser relator da CPI. ¿A CPI dá uma grande exposição para o parlamentar, mas pode afastá-lo das bases eleitorais¿, avalia Raupp, ressaltando que o trabalho de presidente e relator consome muito tempo do congressista.