Título: Operação blindagem
Autor: Pereira, Daniel; Rocha, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 05/06/2009, Política, p. 2

Petistas e peemedebistas lotados na diretoria da Petrobras trabalham nos bastidores para municiar governistas no contra-ataque à oposição.

Apesar da disputa entre os líderes Renan Calheiros (PMDB-AL) e Aloizio Mercadante (PT-SP) pelo direito de indicar o relator da CPI da Petrobras, petistas e peemedebistas lotados na diretoria da estatal agem em parceria para blindar a empresa e os partidos governistas da ofensiva oposicionista na comissão. A operação é comandada por Renato de Souza Duque e Paulo Roberto Costa, que são diretores, respectivamente, de Serviços e de Abastecimento. Ao contrário do presidente José Sérgio Gabrielli, porta-voz público da defesa da Petrobras, Duque e Costa atuam nos bastidores. Dedicam-se à tarefa de colher munição a ser usada por parlamentares aliados no embate com tucanos e democratas.

Apadrinhado pelo deputado cassado e ex-ministro José Dirceu (PT-SP), Duque é considerado ¿o homem do PT na Petrobras¿. Segundo um influente senador da legenda, cumpre a tarefa de coletar informações sobre contratos firmados pela empresa na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, as quais podem ser usadas para constranger PSDB e DEM na CPI. A ideia da cúpula petista é reeditar, se necessário, a estratégia empregada na CPI dos Cartões Corporativos. Naquela ocasião, o governo decidiu compilar gastos realizados em nome de FHC e da então primeira-dama Ruth Cardoso, já falecida, em tentativa de conter a exposição de despesas feitas pela gestão atual, sobretudo as relacionadas a familiares do presidente Lula.

No auge do embate, o ministro da Justiça, Tarso Genro, ex-presidente do PT, negou ao Correio que houvesse a montagem de um dossiê antitucano, mas considerou legítimos o recolhimento e a organização de informações sobre adversários como arma na guerra política. ¿A Petrobras não é uma empresa passiva. Não aceitará ser atacada sem que haja reação¿, disse uma estrela petista.

Plural O papel de Paulo Roberto Costa é mais técnico. Considerado combativo, a prioridade dele é defender os procedimentos adotados pela empresa, com destaque para os contratos bilionários, que são o real motivo de preocupação do Palácio do Planalto. Costa é figura conhecida nos gabinetes da Esplanada dos Ministérios e do Congresso. Não é à toa. Indicado ao posto pelo PP, caiu nas graças do PMDB e, principalmente, do senador Renan Calheiros. Tais laços políticos quase o levaram a assumir a cobiçada Diretoria de Exploração e Produção, hoje nas mãos de Guilherme de Oliveira Estrella. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, impediu a mudança.

Ao lado de outros diretores da Petrobras, Duque e Costa aparecem citados em processos sob análise do Tribunal de Contas da União (TCU), que identificou indícios de irregularidades, como sobrepreço e superfaturamento, em obras da estatal. Num deles, o TCU investiga os gastos da empresa com a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, cujo investimento previsto é de R$ 10,1 bilhões até 2011, conforme o Plano Plurianual de 2008. Outro caso sob o crivo do tribunal em que os dois foram mencionados se refere às obras de modernização da Refinaria de Duque de Caxias. Trata-se da maior unidade de refino em complexidade do país, incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e orçada em R$ 8,7 bilhões.

BLOG OFICIAL A Petrobras criou uma espécie de blog na página da empresa na internet para responder às denúncias que serão exploradas na CPI do Senado. Batizado de ¿Fatos e Dados¿, o espaço veicula a versão da estatal para notícias divulgadas na imprensa e abre espaço para comentários dos internautas. Há ainda enquete sobre qual tema deve ser alvo de esclarecimentos. Ontem, às 20h30, havia 302 votos computados. Do total, a maioria (117) pedia informações sobre o ¿uso de verba de patrocínio¿. O tema que despertava o menor interesse era a ¿Refinaria de Pernambuco¿, com 55 votos.

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Em campanha

Dos 11 senadores titulares da CPI da Petrobras, oito encerram seus mandatos no próximo ano e terão que, para continuar com algum cargo político, ir às urnas:

FIM DO MANDATO EM 2010

Bloco de apoio ao governo PMDB - PT Paulo Duque (RJ)* - Ideli Salvatti (SC) Romero Jucá (RR) Valdir Raupp (RO)

PRB - PDT Marcelo Crivella (RJ) - Jefferson Praia (AM)*

Bloco de oposição ao governo PSDB - DEM Sérgio Guerra (PE) - ACM Junior (BA)*

* Suplentes que assumiram o cargo por morte dos titulares, renúncia para assumir governo do estado e afastamento para ser ministro de Estado