Título: Polícia reprime novos protestos na Venezuela
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Fonte: O Globo, 30/01/2010, O Mundo, p. 29

Dois estudantes e um policial ficam feridos. Para analistas, uso da força pelo governo viola direitos humanos

CARACAS. Estudantes venezuelanos voltaram ontem às ruas de Caracas para protestar contra o governo do presidente Hugo Chávez, sendo reprimidos pela polícia, que usou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.

Desde domingo passado o país assiste a protestos diários nas ruas e os sinais de insatisfação com o governo já chegaram até a cartazes dentro de estádios de beisebol. A repressão violenta por forças de segurança, segundo analistas, é uma clara violação de direitos internacionais.

¿Foram tão fortes e tão flagrantes as violações de direitos humanos por parte de forças de segurança que se veem funcionários armados com fuzis em frente aos manifestantes. Vemos inclusive o uso de gás lacrimogêneo, que é considerado pelas Nações Unidas como arma química.

(Armas químicas) são proibidas pela Constituição¿, diz Marco Ponce, especialista em manifestação pacífica da ONG venezuelana de direitos humanos Provea, ao ¿El Universal¿.

Em uma semana, dois mortos e mais de 30 feridos

Num dos protestos de ontem, um grupo de manifestantes da oposição marchava em direção à sede da agência de eletricidade estatal, para reclamar da deficiência crônica de energia do país, quando a polícia entrou em ação. Segundo a mídia local, dois estudantes e um policial ficaram feridos.

Além disso, Nizar El Fakih, representante estudantil da Universidade Católica Andrés Bello, comandou um protesto contra o governo e contra o bloqueio ao canal internacional de televisão RCTV.

Os estudantes pedem mais liberdade de expressão e reclamam dos problemas políticos e econômicos que o país enfrenta. Dos seis canais de televisão que Chávez mandou suspender no fim de semana, por supostamente infringir regras de transmissão, quatro conseguiram voltar ao ar até ontem. As emissoras provaram que produzem fora do país parte significativa da programação, o que as isentaria de transmitir programas obrigatórios do governo.

Estudos da Provea mostram que 90% das manifestações no país são de caráter pacífico e só se tornam violentas com a chegada das forças de segurança.

Nos últimos dias, a repressão a protestos deixou dois estudantes mortos ¿ um governista e um de oposição ¿ e cerca de 30 pessoas feridas.

Segundo a última edição da revista ¿The Economist¿, o corte do sinal da RCTV é o último sinal de que país caminha rumo ao autoritarismo.

A insatisfação com o governo Chávez vem crescendo no país e aparecendo até mesmo dentro de estádios de beisebol, o esporte mais popular da Venezuela.

O slogan ¿Chávez, tás ponchao¿, ¿Chávez, você está fora¿, que faz referência a uma expressão usada no esporte, é usado por manifestantes em protestos e aparecem também em cartazes empunhados por torcedores durante jogos.

O slogan é um dos poucos usados por todas as alas da fragmentada oposição do país.

No beisebol, um jogador está fora depois de três tentativas frustradas de acertar a bola. Para os manifestantes, as três principais faltas do governo são o aumento da criminalidade, o racionamento de água e a escassez de energia.

¿A História vai me absolver¿

Em comentários na televisão, Chávez disse que a oposição está tentando criar tumultos similares aos que levaram ao golpe frustrado que o afastou brevemente do poder em 2002.

¿ O mundo pode me acusar do que quiser, mas a História vai me absolver ¿ afirmou, repetindo a famosa frase de Fidel Castro.

As autoridades estão preparando um novo plano de racionamento de energia para a capital, Caracas, depois que Chávez abandonou um esforço anterior que deixou a cidade em caos e enfureceu seus simpatizantes.

Os estudantes querem que especialistas universitários ajudem a desenvolver os planos de racionamento e que o governo, que controla a energia, aumente os investimentos no setor. Chávez nacionalizou o setor de energia em 2007. Analistas dizem que os problemas foram provocados por falta de planejamento e por investimento insuficiente do governo e de empresas privadas.