Título: Vazamento afetou 40% da vida da Baía de Guanabara
Autor: Brandão, Tulio
Fonte: O Globo, 31/01/2010, Rio, p. 13

Série mostrou que condenações são raras

A AGONIA DO mergulhão: um símbolo

Na madrugada de 18 de janeiro de 2000, um duto que liga a Refinaria Duque de Caxias (Reduc) ao Terminal da Ilha d¿Água se rompeu, deixando vazar 1,3 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara. Duas semanas depois, especialistas estimaram que até 40% da vida na baía estavam em perigo. A maré negra, que se concentrou principalmente nos manguezais do fundo da região, pôs em perigo a sobrevivência de tainhas, biguás, caranguejos, árvores de mangue e microrganismos.

Foi a maior tragédia ambiental da Baía de Guanabara, embora, em março de 1975, o petroleiro Tarik Ibn Ziyad, vindo do Iraque, tenha deixado vazar 20 mil toneladas de óleo na Baía. O derramamento de 2000, no entanto, teve enorme impacto sobre as atividades econômicas da região, ganhando repercussão internacional. O então presidente Fernando Henrique Cardoso fez pressão para que a Petrobras pagasse a multa recorde de R$51 milhões aplicada pelo Ibama.

Como mostrou a série do GLOBO ¿A impunidade é verde: atrás das grades só os animais¿, desde que entrou em vigor a Lei de Crimes Ambientais, em 1998, menos de 1% das multas ambientais chegou aos cofres do estado. No âmbito federal, foram apenas 10% (tirando-se a multa da Petrobras pelo vazamento na Baía, o percentual cai para 2,5%).

A série, publicada de 16 a 24 de março de 2008, revelou que não havia no Rio nenhum preso condenado por crime ambiental. O levantamento, inédito, mostrou também que 99% das ações desse tipo de crime no estado foram extintas sem condenação. Em 60% dos casos, os acusados voltaram a ser primários pagando cestas básicas ou prestando serviços comunitários.