Título: Em Davos, líderes temem endividamento, desemprego e risco financeiro
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 31/01/2010, Economia, p. 26/27

FMI vê economia frágil e estima que alguns países levarão até sete anos para sair da crise. Para Lawrence Summers, da Casa Branca, há "recessão humana" nos EUA, e deputado avisa que bancos terão regras

DAVOS. Personalidades-chave do maior encontro global de líderes políticos e empresariais ¿ o Fórum Econômico Mundial ¿ admitiram ontem não ter solução rápida para a confusão que a maior crise financeira global causou: os governos estão endividados, o desemprego está atingindo níveis desproporcionais e os bancos continuam sem freio.

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, alertou que o endividamento dos governos caminha para se tornar o maior problema mundial. A economia mundial, segundo ele, está melhor, mas frágil. Strauss-Kahn disse que alguns países vão levar sete anos para consertar o estrago.

Os governos já injetaram cerca de US$ 5 trilhões em incentivos fiscais para enfrentar a crise. Mas agora a Grécia, que não está conseguindo administrar sua enorme dívida, soou o alarme, e muitos temem que outros países sigam pelo mesmo caminho.

¿ A sustentabilidade fiscal é um dos maiores, talvez o maior problema no mundo. Vamos ter de lidar com isso por cinco, seis, sete anos, dependendo do país ¿ disse Strauss-Kahn, que pediu cautela para tirar estímulos fiscais: cedo demais, há perigo de recessão.

O conselheiro econômico da Casa Branca, Lawrence Summers, aparentando cansaço, pintou um cenário desanimador sobre o estado atual da economia americana: ¿ Estamos vendo nos EUA uma recuperação estatística uma recessão humana.

Summers disse que a notícia de retomada de crescimento dos EUA (5,7% no quarto trimestre de 2009) é boa. Mas classificou de perturbador o desemprego nos EUA: um a cada cinco americanos

entre 28 e 54 anos não trabalha, frisou. Fazendo comparação com os anos 60, quando 95% dos americanos nessa faixa etária tinham emprego, ele concluiu que desemprego se instalou nos EUA de forma estrutural: não é cíclico. O desemprego preocupa também a Europa, onde as taxas subiram a 10%, mesmo com a retomada do crescimento.

Davos também está sendo marcado pelo confronto entre bancos e governos. StraussKahn queixou-se de lentidão e falta de coordenação entre governos na reforma financeira: ¿ Temos de entrar fundo na reforma do setor financeiro, muito mais rápido do que estamos fazendo até agora.

FMI: mundo não aprendeu lição da crise, a coordenação Strauss-Kahn reclamou, em particular, da falta de coordenação, numa clara mensagem ao governo Barack Obama, que acaba de propor ao Congresso americano medidas para regulamentar os bancos.

¿ Esquecemos de uma das lições-chaves desta crise: coordenação.

Coordenar a reforma financeira é chave, e temo que não estamos indo nessa direção ¿ disse Strauss-Kahn.

Enquanto isso, líderes de Europa e EUA se reuniram por duas horas com banqueiros ontem em Davos ¿ um encontro inicialmente não programado ¿ para avisar que vão apertar o cerco regulador contra bancos e outras instituições financeiras.

Passado o pior da crise, os bancos voltaram com força a Davos, reagindo mal às propostas de maior regulamentação.

O deputado americano Barney Franck, que preside o Comitê de Finanças no Congresso, disse que os bancos sabem que terão mais regulação e que a opinião deles não importa: ¿ Francamente, não vai fazer diferença se eles aceitam ou não.

Eles não estão pilotando isso.

Os emergentes estão reerguendo a economia mundial, sobretudo a China. Mas os chineses foram duramente cobrados por manter sua moeda desvalorizada em relação ao dólar ¿ uma estratégia, segundo os críticos, para baratear suas exportações.

Zhu Min, vice-presidente do Banco Central chinês, disse que, quando os líderes mundiais concordarem com uma estratégia de saída, a China estará pronta para atacar o câmbio e o excesso de liquidez.

Apesar do forte aparato policial em Davos, um grupo conseguiu ontem protestar contra o Fórum. A rede BBC falou em cerca de cem manifestantes, e o ¿Wall Street Journal¿, em 50. Eles levavam bandeiras vermelhas e faixas que diziam ¿Um mundo melhor é possível¿ e ¿Relaxe, faça sexo¿. Segundo a BBC, o grupo foi dispersado a jatos d¿água