Título: 2009: a segunda descoberta do Bras
Autor: Mercadante, Aloizio
Fonte: O Globo, 03/01/2010, Opinião, p. 7

O ano de 2009 começou sob as brumas da pior crise internacional desde 1929.

As perspectivas para o país não eram nada boas. A crise havia derrubado a arquitetura financeira internacional. Trilhões de dólares evaporaram-se, secando o crédito mundial. O comércio internacional reduzia-se drasticamente.

As grandes economias desenvolvidas do planeta, EUA, União Europeia e Japão, mergulhavam numa recessão profunda, ameaçando levar de roldão toda a economia global.

No Brasil, nos lembrávamos das crises periféricas dos anos 90 que, embora pequenas, arrebentavam a nossa economia, esgarçavam o tecido social com desemprego e pobreza e ainda maltratavam a nossa autoestima, ao nos submeter às draconianas exigências do FMI.

O desafio posto à nossa frente era imenso e alguns mais uma vez previram a derrocada de um Brasil que começava a viver novo ciclo de desenvolvimento.

Chegando ao fim de 2009, constatase, paradoxalmente, que este foi um ano extremamente positivo para o Brasil.

Com efeito, o ¿país do futuro¿ é a nação do momento. O conservador ¿Financial Times¿ afirma que ¿o Brasil é a potência do século XXI a se observar¿.

A prestigiada ¿The Economist¿ estampa em sua capa a ¿decolagem¿ do Brasil.

¿Le Monde¿ (França) e ¿El Pais¿ (Espanha) escolhem Lula como a personalidade do ano. Para completar, o Rio de Janeiro foi escolhido sede das Olimpíadas de 2016, algo impensável há poucos anos. Fomos redescobertos.

Isso não ocorreu por acaso. O Brasil soube construir linhas de defesa importantes ao longo destes sete anos de governo Lula. Nós deixamos de ser um país devedor para sermos um país credor, inclusive do FMI. Hoje, temos mais reservas cambiais (US$ 240 milhões) do que dívida externa. Reduzimos também a dívida interna pública de 57,5% para 44% do PIB, e o fizemos sem vender um centavo do patrimônio público. Com austeridade, seriedade tributária e com os grandes superávits comerciais obtidos graças à ousada política exterior conseguimos reduzir drasticamente a vulnerabilidade externa da economia e a fragilidade das finanças públicas. Agora, o país, além de ter domínio completo da inflação, possui verdadeira estabilidade macroeconômica.

E, ao contrário do governo de São Paulo, que privatizou a Nossa Caixa no auge da crise, o governo federal soube fortalecer os bancos públicos, o que foi fundamental para o enfrentamento da recessão mundial.

Consolidamos a estabilidade e a combinamos com o crescimento de que tanto precisávamos. Temos hoje economia sólida e inauguramos novo ciclo de desenvolvimento.

O que melhor caracteriza esse novo ciclo é o crescimento com distribuição de renda. Graças a programas como o Bolsa Família, que atende a mais de 11 milhões de famílias, bem como à política de recuperação do salário mínimo, que apresenta ganhos reais de 67%, e à grande geração de empregos formais, cerca de 21 milhões de pessoas deixaram a pobreza. Os indicadores sociais são os melhores em toda a história do IBGE. Assim, o desenvolvimento brasileiro recente, em contraste com outros períodos de crescimento, foi includente e criador de cidadania. A expansão do mercado interno de consumo de massas, propiciada pela distribuição de renda, a geração de empregos e a facilitação do crédito, foi também de substancial relevância para preservar a nossa economia nesta grave recessão mundial.

O social é o eixo estruturante do novo ciclo de desenvolvimento.

Ademais, o governo federal tomou as medidas certas para enfrentar a crise: alavancou-se o financiamento público, irrigando a economia com crédito facilitado, e desonerou-se a construção civil, os veículos e os produtos da linha branca. Os resultados estão aí: as vendas de veículos e imóveis batem recordes históricos e vamos fechar o ano com mais de 1,4 milhão de empregos gerados.

2009, que poderia ter sido o ano em que submergiríamos de novo na obscuridade do passado recente, revelou-se o ano em que o Brasil foi descoberto como país em irresistível ascensão. Mais do que isso: 2009 foi o ano em que o Brasil se autodescobriu como a grande nação que sempre teve o potencial de ser.

E, com as perspectivas do pré-sal e da ¿economia verde¿, a década que se inicia em 2010 será, sem dúvida, a década do Brasil.

O Brasil construiu linhas de defesa importantes nestes sete anos de governo Lula

ALOIZIO MERCADANTE é líder do PT no Senado.