Título: Muita emoção na chegada dos militares a SP
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Fonte: O Globo, 16/01/2010, O Mundo, p. 29

Lágrimas marcam o reencontro de 16 dos 25 feridos com familiares; dois estavam em macas

SÃO PAULO. Foi cercado de forte emoção o desembarque, ontem à tarde, na Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos (SP), de 16 dos 25 militares brasileiros feridos no terremoto do Haiti. Os militares foram abraçados e beijados por familiares e muitos não seguraram as lágrimas. Dois desceram da aeronave em macas; dois, em cadeira de rodas e os outros 12, com ferimentos mais leves, caminharam ao encontro dos parentes que os aguardavam no saguão. O tenente-coronel Alexandre José dos Santos e o cabo Daniel Coelho da Silva, que vieram em macas, foram de ambulância para o Hospital de Área Militar do Cambuci, onde os 16 ficarão em quarentena.

- Serão feitos exames de laboratório para verificar se foram infectados por alguma doença infectocontagiosa durante a missão - explicou o general Eduardo Segundo Liberali Wizniewsky, comandante da 2ª Região Militar, acrescentando que todos passarão por exames psicológicos.

O cabo Carlos Michael Pimentel de Almeida, de 23 anos, voltou ao Brasil com um ferimento na cabeça provocado por uma laje que caiu sobre a beliche em que dormia no Ponto Forte, ou Casa Azul, de onde partem as patrulhas que monitoram as ruas de Porto Príncipe.

- Eu estava no terceiro andar do prédio, em hora de descanso. De repente, deu um forte tremor que balançou tudo. Uma laje caiu em cima de mim. Saí debaixo dela, mas veio novo desmoronamento. Pensei que fosse um atentado, que tivessem jogado uma bomba.

Cabo não quis falar sobre as cenas que presenciou

Carlos Michael preferiu não detalhar a cenas de desespero que presenciou:

- Isso deve ficar apenas com aqueles que viveram aquele momento. Foi o pior dia da minha vida. Até agora, não consegui entender o que aconteceu. Por que eu fiquei vivo e meus amigos, não.

Emocionados, seus pais, Carlos José e Maria Cristina, permaneceram sentados ao seu lado durante toda a entrevista do filho. Carlos Michael é de Cachoeira Paulista, mas lotado no 2º Batalhão de Infantaria Leve, em Lorena, um dos quartéis que mais sofreu baixas com o terremoto do Haiti.

Eram esperados 18 militares no voo, que partiu do Haiti às 6h da manhã e chegou às 12h40m (horário de Brasília). Mas dois deles, o sargento Antonio Carlos Pereira de Novaes e o fuzileiro naval Ubiratã Ferreira, por estarem com machucados leves, decidiram continuar no Haiti para ajudar nos trabalhos de rescaldo.

Fábio Pesaresi, pai do cabo Eugenio Pesaresi Neto, do 28º Batalhão de Infantaria Leve, de Campinas, falou sobre os momentos de angústia até ter notícias do filho, que teve um dedo da mão direita esmagado por escombros do prédio em que trabalhava:

- Fiquei sabendo do terremoto por volta da 1h da madrugada de quarta-feira. Comecei, então, a tentar telefonar e a acessar a internet em busca de informações sobre meu filho. Só consegui falar com ele e me tranquilizar às 18h da quarta-feira.

Segundo o general Wizniewsky, dois soldados com ferimentos mais graves não puderam viajar e estão em um hospital na República Dominicana. Outros dois estão no hospital de campanha administrado pela Argentina, no Haiti. Não houve informações detalhadas sobre os outros três que completam o grupo de sobreviventes. Os corpos dos militares mortos devem ser trazidos para o Brasil a partir de domingo. Haverá uma cerimônia em Brasília com a a presença do presidente Lula.