Título: Tratamento VIP a FHC e Alckmin
Autor: Campbell, Ulisses
Fonte: Correio Braziliense, 05/06/2009, Política, p. 6

Para fugirem da imprensa, ex-presidente da República e secretário de Desenvolvimento de São Paulo são dispensados de passar pela portaria do fórum. Eles foram imediatamente recebidos pelo juiz para depor.

São Paulo ¿ Duas testemunhas ilustres do caso mensalão tiveram tratamento VIP ontem no Fórum Criminal da Justiça Federal, em São Paulo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o atual secretário de Desenvolvimento de São Paulo, Geraldo Alckmin, depuseram como testemunhas de defesa dos ex-deputados federais Roberto Jefferson (PTB) e José Janene (PP), que são réus no processo. Para entrar no fórum, os dois tucanos exigiram não passar pela portaria, como vem ocorrendo com todas as demais testemunhas do caso. O ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e o ex-ministro da Coordenação Política Aldo Rebelo, por exemplo, depuseram na semana passada ¿ o primeiro como testemunha e o segundo como réu. Ambos se apresentaram como cidadãos comuns, inclusive se identificando na portaria.

FHC e Alckmin entraram em carros particulares pelos fundos do fórum, localizado no bairro Cerqueira César, a uma quadra da Avenida Paulista, Zona Sul da capital. Só entram para depor na 2ª Vara Criminal Federal, em São Paulo, nessas condições réus algemados que estão presos. No dia em que Thomaz Bastos foi depor, ele teve de procurar vaga em estacionamento como qualquer mortal e ainda pegou chuva ao caminhar do carro até a entrada do prédio.

As regalias dos tucanos não param por aí. A maioria dos réus e testemunhas que depuseram até agora em São Paulo esperou em uma antessala a sua vez de prestar depoimento por, em média, quarenta minutos, mesmo chegando na hora marcada. Isso porque a juíza titular Sílvia Maria Rocha, geralmente, estava em outro andar do prédio na hora em que os réus e testemunhas chegavam. FCH e Alckmin foram pontuais, mas não perderam um minuto sequer esperando pelo juiz Márcio Ferro Catapani, que os ouviu ontem. Tanto FHC quanto Alckmin não quiseram falar com jornalistas que aguardavam do lado de fora do prédio.

Reforma da Previdência O advogado de Jefferson, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, arrolou o ex-presidente e o ex-governador como testemunhas de defesa do ex-deputado com intuito que ambos esclarecessem ¿alguns pontos¿ sobre a votação da reforma da Previdência, ocorrida em 2003 na Câmara dos Deputados. ¿Os dois testemunharam a trajetória e a vitória dele (Jefferson) como um líder¿, disse o advogado. Jefferson é presidente nacional do PTB e responde pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo que investiga o suposto esquema de pagamento de propina a deputados em troca de apoio ao governo denunciado por ele próprio.

Segundo o Ministério Público Federal, Jefferson teria recebido propina do governo para votar a favor da reforma da Previdência, que teve Geraldo Alckmin como relator. ¿Eu arrolei as duas testemunhas com o propósito de afastar essa acusação¿, explicou Barbosa. Ele disse ainda que FHC e Alckmin teriam confirmado que Jefferson sempre lutou por mudanças na Previdência.

Apesar de terem sido ouvidos separadamente e a portas fechadas, FCH e Alckmin encontraram-se na antessala do juiz Catapani e tomaram rapidamente um café juntos. A sessão de perguntas feitas a FCH durou 30 minutos. O ex-governador de São Paulo não ficou nem 10 minutos na frente do juiz. Em seguida, cada um deles leu as folhas que continham os depoimentos e assinaram. Como ambos depuseram nas condições de testemunhas, nenhum deles levou advogados. Os dois também dispensaram seguranças.

Segundo o Correio apurou, FHC, que é sociólogo, e Alckmin entraram pelos fundos do Fórum Criminal porque fizeram tal requisição ao juiz encarregado da administração do prédio. O pedido teria sido feito para que ambos não encontrassem com jornalistas, que estavam na porta principal do fórum. Foram ouvidos ontem ainda Irineu Casemiro Pereira e Gelsu Aparecido de Lima, como testemunhas do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP); e Peter Glazier, testemunha de José Roberto Salgado, acusado de gestão fraudulenta. Essas testemunhas entraram pela porta da frente, como pessoas comuns.