Título: Ajustes nos planos olímpicos
Autor: Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 19/01/2010, Rio, p. 10

Ônibus expresso irá até aeroporto e duplicação da Autoestrada Lagoa-Barra volta a ser estudada

Os projetos de transporte para as Olimpíadas de 2016 serão revistos: em fase de licitação, a linha de ônibus articulados conhecida como Transcarioca (novo nome do Corredor T-5), que inicialmente ligaria a Barra da Tijuca à Penha, será ampliada até o Aeroporto Internacional Tom Jobim para o evento. Além disso, a prefeitura volta a estudar obras para melhoria do trânsito entre a Barra e a Zona Sul que já foram discutidas e jamais saíram do papel ¿ devido aos custos ou a resistências de moradores ¿, como a duplicação da Avenida Niemeyer e da Autoestrada Lagoa-Barra. As novidades fazem parte do processo de revisão do projeto olímpico que União, governo do estado e prefeitura desenvolvem com a supervisão da equipe de monitoramento do Comitê Olímpico Internacional (COI) para as Olimpíadas de 2016, que desde ontem está reunida na cidade.

O encontro, num hotel na Barra da Tijuca, termina hoje e tem a participação de representantes do Comitê Rio 2016, do governo do estado e da prefeitura. Hoje, o especialista em gestão de construções do COI, Grant Thomas, deve percorrer alguns dos locais escolhidos para serem sedes olímpicas.

No caso do Maracanã, também haverá mudanças. O projeto foi reformulado para manter o Estádio Célio de Barros e o Parque Aquático Júlio de Lamare, mesmo depois da Copa do Mundo de 2014. Com isso, as áreas de serviço necessárias para os Jogos Olímpicos serão deslocadas para outro terreno nas imediações.

Apesar de o governo do estado ainda não ter lançado o edital, a secretária de Esportes e Lazer, Márcia Lins, confirmou que as primeiras obras começam em fevereiro ¿ ou seja, um mês antes do prazo final (março) estipulado pela Fifa para o início dos trabalhos em estádios da Copa.

Maracanã fechado só a partir de setembro

Márcia informou que serão dois contratos de obras. O principal, orçado em cerca de R$ 500 milhões, terá seu edital lançado após uma audiência pública marcada pelo governo para o próximo dia 28. Outro contrato, para a execução de sondagens necessárias para as obras, deve ser assinado nos próximos dias.

¿ Esses serviços de sondagem podem ser feitos com o estádio aberto e devem durar cerca de três meses. Somente depois iniciaremos as obras maiores e só em setembro será necessário fechar o estádio ¿ explicou a secretária.

¿ O que nós faremos é uma revisão do dossiê da candidatura ¿ acrescentou o ministro do Esporte, Orlando Silva. ¿ Temos até agosto para fazer os ajustes. Vamos passar em revista os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 E cruzar os projetos da Copa com os das Olimpíadas, de modo a tornar os investimentos mais eficazes.

As equipes também trataram da formação da Autoridade Pública Olímpica (APO), que terá a coordenação de Orlando Silva e representantes dos três níveis de governo.

O texto que dará embasamento legal ao grupo ¿ que vai gerenciar os projetos ¿ está em fase final de redação e precisará ser aprovado pelo Congresso, pela Alerj e pela Câmara de Vereadores, provavelmente até abril.

O prefeito Eduardo Paes disse que ainda não está decidida qual a melhor solução viária para a ligação Barra-Zona Sul, apontada pela comissão de inspeção do COI, durante o processo de candidatura, como um ponto crítico do projeto do Rio. O dossiê da candidatura previa originalmente a implantação de um BRT (Bus Rapid Transit, linha de ônibus articulado) ligando a Barra (Avenida Alvorada) à Zona Sul (Gávea), onde se integraria ao metrô. A prefeitura desistiu de fazer o projeto porque o governo do estado prometeu tirar do papel a Linha 4 (Ipanema-Jardim Oceânico) do metrô a partir de março: ¿ O COI já foi informado de que queremos trocar o BRT pela Linha 4 do metrô. Mas eles chamaram a atenção para a necessidade de outra solução viária. Temos que estudar.

Duplicar a Niemeyer, fazer uma terceira faixa, construir um novo túnel...

¿ exemplificou o prefeito.

As soluções de tráfego levantadas por Paes para a ligação Barra-Zona Sul têm sido discutidas há quase 20 anos. Em 1997, o então prefeito Luiz Paulo Conde estimou serem necessários R$ 20 milhões para duplicar a Avenida Niemeyer. Em 1999, um novo túnel ligando Leblon a São Conrado foi orçado em R$ 60 milhões. Em 2001, o então prefeito Cesar Maia estimou que a duplicação da Autoestrada Lagoa-Barra, com a construção de mergulhões para eliminar o cruzamento da Praça Sibelius e os existentes ao longo da Rua Mário Ribeiro, além de novos túneis, não sairia por menos de R$ 700 milhões.

O secretário nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser, afirmou que a Linha 4 do metrô é importante por ser uma solução de transporte de massa. No entanto, a preocupação do COI é garantir que, em 2016, exista um corredor de tráfego exclusivo para o deslocamento de atletas e outras pessoas ligadas às Olimpíadas.

¿ Essa via é necessária ¿ disse o secretário Leyser.

Nos Jogos Pan-Americanos de 2007, as faixas exclusivas para as delegações existiram, mas as mudanças causaram transtornos ao trânsito, principalmente na Linha Amarela. Na época, a prefeitura evitou que os veículos de atletas e outras pessoas ligadas ao Pan cruzassem a Zona Sul para chegar aos pontos de competição. Durante as Olimpíadas, o deslocamento das comitivas e dos carros oficiais entre a Barra e a Zona Sul será inevitável, para se chegar ao Estádio de Remo da Lagoa ou à Praia de Copacabana, por exemplo.

Leyser confirmou que o Corredor T-5 terá sua linha ampliada para o Aeroporto Internacional até 2016. E o prefeito Eduardo Paes prevê que as obras no trecho inicial a ser licitado (Barra-Penha) comecem até abril. A entrega das propostas das empreiteiras interessadas em fazer a obra está prevista para o próximo dia 26. A primeira etapa (Barra-Madureira) ficaria pronta até março de 2012; a última etapa (Madureira-Penha), no primeiro trimestre de 2013. Um total de 3.630 imóveis, relacionados num decreto do prefeito editado em dezembro passado, terá que ser desapropriado (total ou parcialmente).

Outra alteração será em relação ao projeto da Vila de Mídia. Eduardo Paes disse ontem ter recebido sinal verde do diretor-executivo do COI, o suíço Gilbert Felli, para acomodar parte da vila na Zona Portuária. Em dezembro, em outra reunião do COI no Rio, a mudança no projeto não foi aceita inicialmente. A localização do complexo causou o primeiro conflito entre a entidade e o comitê organizador dos jogos. O desentendimento foi classificado ontem pelo prefeito como um ¿curto-circuito¿.

¿ O COI considerou absolutamente aceitável transferir a Vila de Mídia, ou parte dela, para a Zona Portuária.

O comitê está consciente de que os Jogos devem atender às prioridades da população. E a Vila de Mídia na Zona Portuária significa a construção de cinco, seis ou até dez mil unidades habitacionais naquela região ¿ comemorou o prefeito.

COLABOROU Gabriel Mascarenhas