Título: Brasil extradita uruguaio da Operação Condor
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 20/01/2010, O País, p. 8

Militar da reserva, acusado de desaparecimento de opositores e de tortura, deve ser entregue hoje à Argentina

BRASÍLIA. O coronel da reserva uruguaio Manuel Cordero Piacentini, acusado de ter atuado na Operação Condor ¿ movimento de repressão aos opositores das ditaduras militares do Cone Sul ¿ deverá ser extraditado ainda hoje para a Argentina.

Cordero, que responde a processo em Buenos Aires e em Montevidéu, no Uruguai, teve sua extradição aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em agosto de 2009. Ontem pela manhã ele alegou que teria passado mal, quando policiais federais apareceram em sua casa, em Santana do Livramento (RS), para buscá-lo.

A redação final da extradição saiu apenas no dia 4 de dezembro.

A partir dali, a Argentina teria 60 dias para buscar o extraditado.

A Polícia Federal espera que hoje os médicos liberem Cordero, para que ele possa ser entregue ao governo argentino.

Casado com uma brasileira, Cordero veio ao Brasil em 2005 após decisão da Justiça uruguaia de prendê-lo por desobediência.

Ele se negou a comparecer à audiência para responder por apologia ao crime, por defender torturas ocorridas durante o regime militar.

A presença de Cordero no Brasil foi denunciada ao Ministério Público da Argentina pelo advogado brasileiro Jair Krischke, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos. O governo argentino pediu sua extradição.

O uruguaio entrou com pedido de refúgio no Brasil, que foi negado pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) e pelo então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dois anos depois. Cordero foi preso em fevereiro de 2007. Alegando problemas cardíacos, converteu sua condenação em prisão domiciliar, em dezembro de 2008.

Na Argentina, o militar é acusado de ser o responsável pelo desaparecimento de dez pessoas e de comandar tortura em 32 opositores da ditadura, em 1976, no governo de Jorge Videla.

Cordero será entregue a policiais federais argentinos da Interpol em Uruguaiana (RS).

Krischke disse que a decisão do Ministério da Justiça em entregar Cordero ¿melhora¿ um pouco a imagem do governo depois do recuo do presidente Lula no decreto que criou a Comissão Nacional da Verdade.

¿ Efetivar essa extradição limpa um pouco a cara do governo ¿ disse Jair Krischke