Título: Chávez fecha comércio
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Fonte: O Globo, 12/01/2010, Economia, p. 19

Com apoio do Exército, 70 lojas são lacradas na Venezuela por elevar preços

Do El Nacional/GDA*

CARACAS

Conforme anunciado domingo pelo presidente Hugo Chávez, o governo venezuelano deu início ontem à fiscalização de lojas e supermercados, o que levou ao fechamento de 70 estabelecimentos que remarcaram seus preços. O ministro do Comércio, Eduardo Samán, afirmou que a desvalorização do bolívar, de até 50%, não deve afetar os preços, pois os custos dos produtos hoje à venda teriam sido calculados por um valor muito superior ao câmbio anterior, de 2,15 bolívares por dólar. Na sexta-feira, o governo anunciou que o câmbio passaria a 2,60 para itens essenciais, como de saúde e alimentos, ou a 4,30, no caso de supérfluos, a fim de impulsionar a produção nacional.

Ontem, no mercado paralelo, o dólar avançou 18%, para 6,50 bolívares.

¿ Os produtos existentes não podem ser objeto de reajuste, a lei o afirma explicitamente, por isso iniciaremos um exaustivo processo de inspeção, no qual aplicaremos medidas de fechamento temporário a quem tiver remarcado, para voltar ao preço original ¿ afirmou o ministro, ressaltando que a usura é um delito passível de prisão.

Participam da fiscalização a Guarda Nacional, o Serviço Integrado de Administração Aduaneira e Tributária (Seniat), o Instituto para a Defesa das Pessoas no Acesso a Bens e Serviços (Indepabis), o Ministério do Comércio e órgãos locais.

O Indepabis fechou duas filiais do supermercado Éxito (rede controlada pela francesa Casino), além de 15 lojas em Punto Fijo e oito em Maracay, entre outras. Alguns dos setores mais atingidos foram os de eletrodomésticos, alimentos e autopeças, informou a estatal Agencia Bolivariana de Notícias.

Segundo o Indepabis, os reajustes médios foram de 50% ¿ com altas de até 200%. Os estabelecimentos ficarão fechados por 24 ou 48 horas, para retomar os preços da semana passada.

Moody¿s: déficit cai, inflação dobra

A agência de risco Moody¿s afirmou ontem que a desvalorização vai melhorar as finanças do governo, pois a receita em bolívares com petróleo vai dobrar. Segundo a agência, o déficit fiscal este ano deve cair dos 7% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) previstos para 3%. ¿Este foi provavelmente o elemento decisório para a aplicação da medida¿. Em setembro haverá eleições legislativas. Já a inflação, hoje em 30%, deve dobrar.

A possível melhora nas contas fiscais levou a Standard&Poor¿s a reafirmar a classificação da dívida soberana, de ¿BBB¿, com perspectiva estável, em vez de negativa.

A medida também deve afetar a receita de empresas americanas. A consultoria BMO reduziu as perspectivas para Avon, Procter & Gamble e Colgate. A Bolsa de Madri também refletiu ontem a desvalorização: recuou 0,73%, puxada pela queda de 3,19% da Telefônica, que tem forte presença na Venezuela.

O arcebispo de Mérida, monsenhor Baltazar Porras, afirmou que as medidas de controle cambial se prestam ¿à corrupção e aos privilégios¿. E que os mais afetados serão os pobres.