Título: Lula deve decidir por Rafale e só discute preço
Autor: Damé, Luiza; Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 12/01/2010, O País, p. 9

Presidente quer anunciar decisão semana que vem e tenta evitar atritos com a FAB, que preferia caça sueco

BRASÍLIA. De volta das férias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende acabar com a polêmica sobre a compra de novos caças até a próxima semana.

O Rafale, fabricado pela francesa Dassault, ainda é sua escolha, apesar do parecer contrário da Aeronáutica. Há dois entraves. O primeiro existe desde o 7 de Setembro, quando Lula anunciou sua preferência publicamente ao lado do presidente da França, Nicolas Sarkozy: a negociação travada para redução do preço. O segundo é evitar que a Força Aérea Brasileira (FAB) seja desmoralizada por não conseguir influenciar na escolha. Estima-se que o francês custe o dobro do Gripen NG da Saab (Suécia).

Ontem, na reunião de coordenação do governo, o presidente deixou claro que não quer ver o assunto se arrastar.

O relatório da FAB foi entregue ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, em 6 de janeiro. A conclusão vazou, o que irritou o Planalto e revelou a ordem de preferência da Aeronáutica: Gripen NG, F-18 da Boeing (EUA) e Rafale.

Fontes do setor afirmam que o preço do Rafale não foi substancialmente reduzido na proposta final entregue à FAB após setembro. Não há notícia de que a negociação paralela entre representantes dos dois governos tenha prosperado.

França é o único país que não revelou valores O preço é item de grande preocupação para os aviadores, que citam o risco de o Rafale se tornar uma ¿rainha de hangar¿, devido ao alto custo operacional. A compra imediata é de 36 aeronaves a serem entregues a partir de 2014 e que voarão até a metade do século. O caça escolhido ditará a recomposição da frota.

A Dassault previa que o governo justificaria a escolha do Rafale a partir de uma ¿margem de manobra¿ prevista em ¿requisitos mínimos¿ da concorrência da FAB ¿ e não necessariamente a partir da pontuação final da comissão técnica. A solução, espécie de releitura da importância de cada um dos seis critérios de avaliação, é vista como saída para evitar confrontos.

¿ O Rafale supera muito amplamente os requisitos mínimos operacionais da FAB. Essa pontuação alta cria uma faixa em cada quesito, que dará margem de manobra para a decisão do governo ¿ disse um consultor ligado à Dassault no fim do ano.

Além da pressão oficial para a redução de preço, a França negocia diretamente com integrantes do governo. O país é o único finalista que não divulgou seu preço extraoficialmente. Na única coletiva do consórcio Dassault (Dassault, Snecma e Thales), o grupo defendeu que manter o sigilo de sua proposta faz parte de sua estratégia. Sob insistência, Jean-Marc Merialdo, representante do consórcio no Brasil, negou que a França tivesse se comprometido com a redução literal de preço: ¿ O governo solicitou que o preço fosse compatível. Foi o estabelecido entre os dois presidentes ¿ disse, em novembro.

Segundo Merialdo, o governo brasileiro teve acesso a dados que demonstrariam que o preço oferecido é ¿compatível¿ com o cobrado da Força Aérea francesa.

Isso afastaria a suspeita de superfaturamento, mas não resolve o risco de falta de aproveitamento dos caças devido a restrições financeiras no Brasil.