Título: Arruda: investigações nas mãos de aliados
Autor: Weber, Demétrio; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 12/01/2010, O País, p. 8

Deputado da meia comanda sessão secreta da Câmara; na comissão que analisa impeachment, maioria é governista

BRASÍLIA. O fim do recesso foi antecipado para que a Câmara Legislativa do Distrito Federal começasse a analisar ontem o pedido de impeachment e as denúncias de corrupção contra o governador José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM) e oito deputados distritais.

Mas, já no primeiro dia da volta ao trabalho, a base governista blindou qualquer possibilidade de apuração do esquema denominado mensalão do DEM: tomou conta das três comissões de investigação e deu sinais de que tudo pode terminar em pizza.

O prédio foi fechado ao público por determinação do deputado Leonardo Prudente, que guardou o dinheiro na meia, e reassumiu o cargo. Do lado de fora, enquanto centenas de manifestantes faziam atos contra e a favor de Arruda, os deputados elegeram o novo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Geraldo Naves. À CCJ caberá votar pela admissibilidade ou não dos três pedidos de impeachment que já receberam parecer técnico favorável da Procuradoria-Geral da Câmara.

¿Amizade não interfere no trabalho¿, diz deputado Quatro dos cinco deputados que integram a comissão fazem parte da bancada governista. Entre eles, a líder do governo na Câmara, deputada Eurides Brito (PMDB), que aparece em vídeo recebendo dinheiro do então presidente da Codeplan e depois secretário de Relações Institucionais de Arruda, Durval Barbosa.

Naves não se constrangeu ao admitir que é amigo do governador e que o visitou depois que o escândalo veio a público. Ele indicou como relator dos pedidos de impeachment o deputado Batista das Cooperativas (PRP), outro da base de Arruda.

¿ Durante a crise, várias (vezes).

Fui lá visitá-lo. Sou amigo dele. Sou amigo do Paulo Octávio (vice-governador também citado nas denúncias de corrupção).

Sou amigo de todo mundo ¿ disse Naves, citando ainda Leonardo Prudente: ¿ A amizade não interfere no trabalho de deputado ¿ disse.

O relator terá até 20 dias úteis para apresentar parecer sobre os pedidos. Caso a CCJ aprove um deles, o assunto será remetido para uma comissão especial em que quatro dos cinco membros são da base de Arruda.

¿ Tudo indica que há uma articulação do governador para que o processo por crime de responsabilidade, o impeachment, seja arquivado ainda na CCJ ¿ disse a líder do PT na Câmara, deputado Érika Kokay.

¿ Tudo indica que houve muitos acordos durante o recesso ¿ completou.

A Câmara instalou também ontem a CPI da Corrupção, criada para investigar denúncias de 1991 a 2009. Com folgada maioria na Casa ¿ pelo menos 17 dos 24 deputados apoiam Arruda ¿ a base governista também ficou com quatro das cinco cadeiras.

Três dos cinco parlamentares na CPI são ex-secretários de Arruda, inclusive o presidente, deputado Alírio Neto (PPS), e o relator, Raimundo Ribeiro (PSDB).

Ambos foram secretários de Justiça de Arruda. A outra ex-secretária é Eliana Pedrosa (DEM), que negou qualquer viés pró-Arruda na investigação.

¿ Eu queria saber quem são os governistas, já que o governador não tem partido ¿ disse Eliana à TV Globo.

Os deputados adiaram para 2 de fevereiro a análise do pedido de afastamento de Prudente, um dos oito deputados acusados de envolvimento no esquema de propinas do governo do DF. A bancada do PT havia solicitado seu afastamento, alegando que ele não tem isenção para comandar a Casa.