Título: Gratidão presidencial
Autor: D'Elia, Mirella
Fonte: Correio Braziliense, 06/06/2009, Política, p. 2

Caso seja inocentado pelo STF, Palocci deverá voltar a ocupar cargo de destaque no governo. Esse é o plano de Lula para o fiel ex-ministro

A sinalização do Supremo Tribunal Federal (STF) favorável ao ex-ministro da Fazenda e deputado Antonio Palocci reforçou um antigo desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: fazer seu ex-colaborador retomar o papel de destaque na política nacional. A meta é patrocinar a volta a um cargo de destaque no governo para lhe dar prestígio em futuras disputas eleitorais.

A expectativa em torno do julgamento de Palocci faz Lula pensar onde poderá acomodá-lo e o PT a imaginar qual cargo ele poderá disputar em São Paulo. Há cenários mais imediatos e outros de médio prazo. Uma das ideias é colocar o ex-ministro no lugar de José Múcio Monteiro, na Secretaria de Relações Institucionais. O cargo deverá ficar vago com a indicação de Múcio ao Tribunal de Contas da União (TCU), no lugar do ministro Marcos Vilaça, que se aposenta este mês.

O outro cenário é levar Antonio Palocci para a Casa Civil quando a ministra Dilma Rousseff sair para se dedicar à campanha presidencial. Ele teria a função de tocar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em ano eleitoral e ajudar a candidata petista. Lula gostaria que ele tivesse papel chave na montagem do próximo governo caso saia vitorioso em 2010.

A opção da Secretaria de Relações Institucionais agradaria a petistas que há tempos desejam tomar controle da articulação política do governo e não inviabilizaria o projeto de lançá-lo candidato ao governo paulista. No papel de chefe da Casa Civil, Palocci adiaria o projeto eleitoral imediato, se dedicaria ao próximo governo e poderia disputar a prefeitura de São Paulo, em 2012.

Sigilo O rumor sobre a volta ao governo é recorrente. Mesmo quando Palocci estava em alta, ocupando o Ministério da Fazenda, já se especulava, durante as reformas ministeriais, sobre uma ida à Casa Civil. Com a saída de José Dirceu da pasta, em 2005, envolvido no escândalo do mensalão, Palocci era o homem mais próximo do presidente Lula. A opção por Dilma serviu à necessidade de colocar uma técnica para tocar a área gerencial do governo.

No ano seguinte, foi Palocci quem deixou o governo envolvido no próprio drama pessoal, acusado de quebrar o sigilo funcional do ex-caseiro Francenildo dos Santos Costa. Disputou a eleição, ganhou e voltou à planície. Conseguiu o primeiro posto de destaque na Câmara como relator da emenda constitucional que prorrogava a CPMF no fim de 2007. Galgou aos poucos melhores posições, mas sempre com o fantasma das acusações de ter usado a máquina estatal contra um caseiro.

Na bancada, Palocci tem atuação discreta, mas é visto pelos colegas como referência para assuntos econômicos. O deputado Paulo Maluf (PP-SP) sempre busca fazer referência ao ex-ministro quando discursa em plenário. Para os petistas, a atuação discreta não diminui sua importância. ¿O Palocci é uma pessoa importante na bancada. Ele tem essa atuação discreta que faz parte do estilo dele¿, disse o colega Devanir Ribeiro (PT-SP). Se o ex-ministro for poupado pelo STF, Lula não medirá esforços para dar novo status político ao ex-colaborador. O presidente tem uma gratidão pelo papel desempenhado como coordenador da campanha de 2002 e pelos resultados como ministro da Fazenda.

Entenda o caso

Quebra de sigilo Antonio Palocci perdeu o poderoso cargo de ministro da Fazenda depois de ser acusado de usar a máquina do governo contra o ex-caseiro Francenildo dos Santos Costa.

Envolvidos Além de Palocci e Jorge Mattoso, o então assessor de imprensa do ministro Marcelo Netto também foi denunciado pelo Ministério Público.

Dados O Ministério Público acusa Palocci de ter determinado ao então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, acessar dados sigilosos da conta de Francenildo.

Pena O crime de quebra de sigilo está previsto no artigo 10 da Lei Complementar nº 105/2001, cuja pena é reclusão de 1 a 4 anos e multa.