Título: Briga entre gigantes da telefonia deve se acirrar este ano com estrangeiros
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 02/01/2010, Economia, p. 23

Novas oportunidades surgem pelas TVs por assinatura e operadoras virtuais

O setor de telecomunicações inicia o ano de 2010 com um novo competidor estrangeiro e no auge de seu processo de consolidação. Em um embate com a espanhola Telefônica, o grupo de mídia francês Vivendi levou a GVT ¿ empresa de telefonia presente em 15 estados e Distrito Federal ¿ e entrou no mercado brasileiro já de olho em novas aquisições. A Telecom Italia acabou de concluir a aquisição da Intelig, operadora de longa distância, para fortalecer a sua infraestrutura nas principais regiões do país.

Mas vem mais por aí.

O Projeto de Lei 29, que permitirá às teles comercializar TV por assinatura, abre novas oportunidades para as operadoras de telefonia, que buscarão empresas de TV no interior do país para aumentar sua oferta de serviços. Sky, que oferece canais via satélite, tende a ser alvo de empresas do setor de telefonia, diz uma fonte do setor.

Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart de olho no setor

A concorrência ganhará ainda mais fôlego com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que já colocou na pauta assuntos como a criação das operadoras virtuais, que oferecem o serviço de telefonia alugando a rede de outras operadoras.

O Grupo Pão de Açúcar, o Carrefour e o Walmart já mostraram interesse, dizem executivos nas empresas. Além disso, haverá o esperado leilão de frequência que permitirá uma quinta empresa de telefonia móvel, com atuação em todo o país.

Companhias como Nextel e Vivendi estão de olho, porque as empresas que já têm licenças não poderão participar.

¿ O apetite pelo Brasil é grande. É um mercado que ainda tem um potencial de crescimento enorme ¿ diz Valder Nogueira, analista do Itaú Unibanco.

Com menos empresas disponíveis no país, a briga tende a ser cada vez mais intensa, a exemplo da disputa em torno da GVT, que viu seu preço subir cerca de 33% em menos de três meses. Acredita-se que a estratégia agora passa a ser a de complementação, com a aquisição de empresas menores ¿ como a Sercomtel no Sul, e a mineira Algar Telecom.

Além disso, especula-se que a TIM seja alvo de ofertas hostis este ano, como da própria Oi, que tem interesse na companhia.

E a Telefônica, que ainda não se conformou com a perda da GVT, deve tentar adquirir o controle da Vivo, que já é dona de 50% das ações, mas para isso terá de negociar com a Portugal Telecom, que detém o restante dos papéis da maior operadora móvel do Brasil.

Em 2009, foram 23 operações de fusões e aquisições, segundo dados da KPMG, em uma alta de 21% . No segmento de Tecnologia de Informação, foram outras 53 operações. Em 2010, esse processo tende a crescer, com o apetite de companhias internacionais.

¿ Esses setores estão na contramão de todo o processo de consolidação no país, que caiu em 2009 devido à crise. A convergência impulsiona esses números. O maior número de operações aconteceu em empresa de médio porte, com companhias querendo complementar seus serviços de mídia móveis e buscando ferramentas para isso. Em 2010, estamos prevendo muitas operações com empresas estrangeiras que já possuem expertise em eventos como Copa e Jogos Olímpicos ¿ diz Luis Motta, sócio da área de Corporate Finance da KPMG no Brasil.

Investimentos em 2010 podem chegar a R$ 10 bi

A compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi (ex-Telemar) no início de 2008 deflagrou todo esse processo de consolidação no país, lembram analistas. Com novos competidores no país, a competição deve ganhar ainda mais força, beneficiando o consumidor.

Porém, é preciso mais investimentos para atender à demanda crescente dos usuários por alta velocidade. Em 2009, com a crise global, os recursos aplicados pela empresas em infraestrutura reduziram cerca de 20% em relação a 2008.

Em 2010, a expectativa é de uma recuperação, voltando ao patamar aplicado em 2008, entre R$ 9 bilhões e R$ 10 bilhões, prevê a Nokia Siemens.

Para não perder clientes, as empresas do setor correm para investir, após um 2009 morno.

Somente a Oi recebeu do BNDES um financiamento recorde ¿ o maior desde a privatização do Sistema Telebrás, em 1998 ¿ de R$ 4,4 bilhões, para elevar os investimentos até 2011. O valor corresponde a cerca de 30% do total que será aplicado. Segundo uma fonte no banco, a Vivo e a Telefônica já conversam para pedir mais dinheiro na instituição.

A TIM deve receber novas quantias este ano.

A Embratel, do bilionário mexicano Carlos Slim, dono ainda de parte da Net e da Claro, vai voltar ao mercado acionário. A empresa pretende abrir novamente seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), para reforçar seu caixa. A empresa mexicana já aprovou, segundo fonte na companhia, um aumento de 20% em seu orçamento para 2010, após muita negociação da filial brasileira.

¿ A concorrência será maior no país porque há um novo competidor, disposto a investir mais. A Vivendi comprou a GVT e quer provar que fez um bom negócio. Ou seja, quer dar valor ao seu ativo. E isso vai impulsionar as outras companhias.

Agora, o importante é obter massa crítica, sinergia e aumentar a participação em praças importantes ¿ diz Petrônio Nogueira, analista de telecom da Accenture.

Investimento da telefonia fixa será na banda larga

Enquanto as negociações ganham força nos bastidores, as empresas reforçaram o caixa para 2010. Segundo Alan Fischler, chefe do Departamento de Telecomunicações do BNDES, o foco de investimento na telefonia fixa será a banda larga.

Entre os terminais móveis, está a Terceira Geração (3G). Para Fischler, para crescer é preciso ter escala. Por isso, o processo de consolidação é esperado: ¿ Um maior tráfego precisa de volume superior de investimento.

O Plano Nacional de Banda Larga vai precisar de reforço de infraestrutura das empresas, mas é preciso uma compensação tributária. Alguns estados como São Paulo e Belém já baixaram o ICMS.