Título: Política perversa
Autor: Diniz, Orlando
Fonte: O Globo, 02/01/2010, Opinião, p. 7

Nos próximos dois anos, o futuro econômico do país, e, consequentemente, de todos nós, passa por questões relacionadas à inflação: crescimento doméstico, atividade econômica internacional e dinâmica de preços.

A história recente mostra que medidas rígidas são necessárias para combater a inflação, porém, quando se trata de desenvolvimento econômico, não se pode contradizer o resto do mundo. Uma lição a ser memorizada: políticas estabilizadoras não devem afetar o crescimento econômico.

Na crise financeira, compulsórios e taxa básica de juros reduzidos permitiram ao PIB um resultado razoável. Agora, com a recuperação da economia, é preciso seguir adiante. Se a roda continuar girando para trás, caminharemos em sentido contrário aos países, que buscam sua mudança de patamar econômico.

O cenário internacional mostra que os indicadores americanos positivos diminuem a aversão ao risco, com mais entrada de capitais em mercados emergentes, especialmente o Brasil. Enquanto o Federal Reserve não subir o juro básico, o dólar continuará fraco e o real, forte.

O setor de serviços já foi uma fonte de preocupação, devido ao aumento da massa salarial. Mas a renda das famílias não cedeu e muito se discute com relação ao avanço desses preços. Mesmo com alguns impactos pontuais nos custos dos serviços, a previsão é de calmaria no horizonte.

No terceiro trimestre de 2009, tivemos um crescimento menor do que o previsto pelo governo e o mercado. Enquanto isso, países como a China e a Índia, grupo ao qual o Brasil pertence, crescem a taxas que estão mais próximas de 10% ao ano do que de zero.

Todos esses argumentos, e outros que não cabem nessas linhas, demonstram a premência de uma política monetária comprometida com o crescimento do crédito e do emprego. O Brasil precisa sair do ranking perverso dos cinco países com as maiores taxas de juros reais do mundo e iniciar, de modo definitivo, sua caminhada para o saudável ranking do desenvolvimento.

ORLANDO DINIZ é presidente da Fecomércio-RJ.