Título: Déficit externo em dezembro foi de US$ 5,9 bilhões, o pior desde 1947
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 21/01/2010, Economia, p. 16

Em 2009, rombo ficou em US$ 24,3 bi. Investimento em ações e títulos é recorde

BRASÍLIA. Com remessas de lucros e dividendos em alta, gastos cada vez maiores com viagens internacionais e saldo comercial enfraquecido, o Brasil registrou em dezembro o pior déficit em transações correntes da série histórica do Banco Central, iniciada em 1947: US$ 5,947 bilhões. O número contribuiu para o rombo de US$ 24,334 bilhões em 2009 ¿ a estimativa inicial era US$ 22 bilhões ¿ e é uma prévia do saldo negativo de 2010, estimado oficialmente em US$ 40 bilhões, mas que pode ultrapassar os US$ 60 bilhões para alguns analistas.

O cenário de deterioração ficará evidente já em janeiro, mês para o qual o BC projeta que igualmente haja déficit histórico de US$ 5,5 bilhões.

¿ O que está afetando mais agora são o saldo comercial e os gastos com remessas internacionais.

Mas esses resultados estão sendo financiados pelos investimentos (estrangeiros diretos e financeiros) ¿ resumiu o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

As transações correntes registram as operações do Brasil com o exterior. Elas integram o balanço de pagamentos, formado ainda pela conta de capital, que registra o fluxo de investimentos para o país. Para que o país esteja em situação externa confortável, o balanço deve estar no azul ou equilibrado.

A recuperação do país após a crise, acentuada no segundo semestre, detonou movimentos distintos. Por um lado, o aquecimento incentivou importações e aluguéis de equipamentos e reavivou os lucros, que voltaram a ser remetidos ao exterior. Por outro, animou investidores, levando o país a atrair dólares para o mercado financeiro e o setor produtivo. Como um dos reflexos desta enxurrada de divisas, a cotação da moeda americana despencou.

O quadro está claro no cenário de 2009. No ano passado, com o câmbio a R$ 1,70, os brasileiros nunca gastaram tanto com viagens no exterior: foram U$ 5,594 bilhões, recorde histórico. Neste mês, também até ontem, os gastos líquidos já chegavam a US$ 435 milhões, com receitas de US$ 354 milhões e despesas de US$ 789 milhões.

Em janeiro, as remessas chegam a US$ 566 milhões A balança comercial vem minguando desde agosto, teve seu mínimo em novembro e recuperou-se ligeiramente em dezembro. O saldo fechou o ano positivo em US$ 25,347 bilhões mas espera-se que despenque em 2010. Já as remessas fizeram caminho oposto.

Mais que dobraram entre agosto e dezembro, quando chegaram a US$ 5,326 bilhões. Em 2009, o saldo negativo ficou em US$ 25,218 bilhões, US$ 3 bilhões acima da projeção.

Em janeiro, até ontem, as remessas estavam em US$ 566 milhões, adiantou Lopes. O pagamento de juros de dívida somou US$ 9,069 bilhões no ano, também pior do que a conta inicial do BC (US$ 8,6 bilhões).

Lopes argumenta que o rombo externo continuará sendo financiado pelos investimentos estrangeiros diretos, que deverão chegar a US$ 45 bilhões em 2010. Em 2009, eles fecharam em US$ 25,949 bilhões, após em dezembro marcar entrada de US$ 5,109 bilhões no país.

Além do investimento produtivo, o Brasil conseguiu financiarse com folga devido às aplicações financeiras. Os estrangeiros investiram em 2009 US$ 47,148 bilhões em ações e títulos, recorde histórico. Só em ações, foram US$ 32,097 bilhões, muito diferente do saldo negativo visto em 2008, de US$ 10,850 bilhões.

Já os investimentos em títulos de renda fixa fecharam com saldo positivo de US$ 10,077 bilhões, quase US$ 5 bilhões a menos do que no anterior.