Título: Calote em funcionários
Autor: Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 06/06/2009, Política, p. 8

Empresa terceirizada deixa de pagar salários de 1.400 pessoas que trabalham na Casa

Patrícia Guedes: ¿Espero que sejamos aproveitamos no novo contrato¿ Cerca de 1,4 mil funcionários de uma empresa terceirizada da Câmara dos Deputados foram surpreendidos com uma amarga notícia ontem: a Capital Empresa de Serviços Gerais Ltda., responsável por quase 60% da mão de obra terceirizada da Casa, não pagou os salários dos funcionários. É a segunda vez consecutiva, de acordo com os trabalhadores e a própria direção da Casa, que a empresa deixa de arcar com os vencimentos. Criada em 1973, a Capital atua na Câmara há mais de 10 anos e tem, atualmente, sete contratos no Legislativo no valor de R$ 43 milhões.

O calote da Capital foi anunciado oficialmente pela empresa no início da tarde de sexta-feira, em reunião ocorrida na Câmara entre funcionários e representantes da empresa. No encontro, que contou com a presença de 100 pessoas, dirigentes da empresa se comprometeram apenas a pagar o salário de maio até meados da próxima semana.

Desde a quinta-feira, a cúpula administrativa da Câmara sabia que a empresa não iria, mais uma vez, honrar os compromissos com seus trabalhadores. Anteontem, o diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio Contreiras, foi informado de que a empresa não pagaria o salário deste mês. ¿Eles (a empresa) tinham dado a certeza de que voltariam a pagar os funcionários¿, afirmou.

No início de maio, a empresa não tinha pago o salário dos funcionários. Segundo Sampaio, o pagamento não foi efetuado porque dias antes o proprietário da Capital tinha falecido. Wilson Lemos de Sousa, 58 anos, foi encontrado morto na manhã de 18 de abril na sede da empresa, localizada no Setor de Abastecimento e Armazenamento Norte (SAAN). O corpo do empresário estava no banheiro do escritório, tendo sido alvejado por tiros. A 2ª Delegacia de Polícia Civil abriu inquérito para investigar a morte.

Morte De acordo com o diretor-geral da Casa, a morte do empresário atrapalhou, segundo os representantes da Capital, o pagamento de maio. O salário, que era para ter sido depositado no dia 5, foi bancado pela própria Câmara perto do fim do mês. Sérgio Sampaio afirmou que os representantes da empresa lhes disseram que a situação peculiar seria normalizada em junho. Contudo, a empresa comunicou que não deve continuar a prestar serviços na Câmara. A reportagem não localizou nenhum representante da Capital nos telefones da sede.

A empresa tem contratos de mão de obra para os setores de limpeza, informática, diagramação, de pessoal de apoio para a TV Câmara, entre outros serviços. A encarregada de serviços gerais da empresa, Patrícia Guedes, tem 33 anos e desde os 19 trabalha para a Capital. Responsável por cuidar da folha de ponto de 310 funcionários da empresa, Patrícia foi informada ontem de que o contrato da área dela com a Câmara seria cancelado.

A Câmara deve fazer nos próximos dias licitações emergenciais dos sete contratos da empresa. Os funcionários da empresa estão preocupados com a situação. ¿Espero que sejamos aproveitados no novo contrato¿, disse Patrícia. ¿Não há nada do ponto de vista jurídico que obrigue a empresa contratada a manter os funcionários nem a Câmara pode fazer essa exigência¿, afirmou Marco Maia (PT-RS), primeiro-vice-presidente da Câmara que foi informado da situação financeira da Capital. ¿Mas, pela minha experiência como agente público, quando há uma situação de troca geralmente se mantém (os funcionários)¿, avalia.