Título: Senado recua e autoriza praça de alimentação
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 09/01/2010, O País, p. 8

Publicação, durante o recesso, do edital de licitação de obra descartada em agosto é criticada por senadores

BRASÍLIA. As surpresas com a criação de gastos milionários pela direção do Senado, durante o recesso, não param . Seis meses após a ideia ter provocado polêmica e ser considerada ¿inoportuna¿ por ele próprio durante a crise na Casa, o 1osecretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), autorizou a publicação no Diário Oficial de anteontem de edital para a construção de praça de alimentação para atender servidores e parlamentares.

Como informou ontem o jornal ¿Estado de São Paulo¿, o custo é de R$ 1,9 milhão. A licitação deverá ser realizada em 9 de fevereiro para que a obra seja inaugurada em três meses.

Em agosto passado, a estimativa de gasto ¿ prevista pelo Departamento de Engenharia da Casa para a construção de 800 a mil metros quadrados inicialmente ¿ era R$ 1,5 milhão. Pelo edital, o preço subiu em R$ 400 mil, e o número de lanchonetes passou de duas para quatro.

¿ A obra foi autorizada para atender demandas até mesmo de jornalistas ¿ justificou o 1o secretário. ¿ Fizemos apenas uma adaptação no projeto original da famosa praça da alimentação, que era desproporcional.

A ideia é que as novas instalações sejam administradas pelo Sesc e Senac em restaurantes e lanchonetes-escola. A exemplo do que já ocorre na Câmara.

Ano passado, porém, Heráclito mostrou-se contrariado com a iniciativa do diretor-geral do Senado, Haroldo Tajra: ¿ Esse assunto não passou pela 1aSecretaria. Não aprovei a ideia, e não é hora de discutir isso ¿ disse à época.

A praça ficará em um dos estacionamentos externos do Senado, onde funciona um quiosque, e deverá ser inaugurada antes de julho, quando começa um recesso branco da Casa, por causa das eleições.

A exemplo do ano passado, a proposta divide opiniões.

¿ Estas coisas não devem sair em ano de eleição. É o tipo de obra que pode aguardar. Os custos devem ser verificados com cuidado. O compromisso da Mesa era discutir previamente com a Casa. Lançar um edital só serve para ridicularizar a instituição ¿ condenou o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

O presidente da Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, Renato Casagrande (PSBES), lembrou que Heráclito já havia adiantado a intenção de autorizar a obra. Mas lamentou que tenha ocorrido no recesso.

¿ Construir uma praça de alimentação para os servidores da Casa não é exagero, já que a instituição dispõe de apenas um restaurante para dez mil funcionários.

O ruim é o formato desse procedimento que parece sempre buscar fórmula que foge do debate. O ideal seria que esse tipo de coisa não ocorresse no recesso parlamentar.