Título: Juíza ordena volta de Redrado ao BC argentino
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 09/01/2010, Economia, p. 27

Cristina Kirchner decide recorrer. Justiça suspende decreto que previa uso das reservas para pagar dívida externa

REDRADO DEIXA o BC na madrugada de ontem, para voltar pouco depois

BUENOS AIRES. Por essa o casal Kirchner não esperava. Um dia depois de Cristina Kirchner demitir por decreto o presidente do Banco Central da República Argentina (BCRA), Martín Redrado, por não liberar US$6,6 bilhões das reservas, a juíza federal Maria José Sarmiento suspendeu um decreto de dezembro, que previa o uso das reservas para pagar a dívida externa do país, e, poucas horas depois, ordenou a volta de Redrado ao cargo. No fim da noite de ontem, o governo anunciou que vai recorrer da decisão da Justiça de reinstituir o presidente do BCRA.

Ontem, menos de 24 horas após deixar a sede do BCRA assegurando que acatava o decreto mas não renunciava ao cargo, Redrado voltou a sua sala, afirmando que fora feita Justiça. Horas antes, disse que "as reservas do BCRA devem permanecer na instituição porque são de todos os argentinos".

- Apostei tudo para defender as economias e os empregos dos argentinos - afirmou Redrado, pivô de uma das piores derrotas sofridas pelo casal K desde sua chegada ao poder, em maio de 2003.

Ele havia sido alertado há cerca de um ano por um de seus colaboradores sobre a possibilidade de Cristina tentar usar as reservas para pagar dívidas e financiar projetos de seu governo. Um funcionário do BCRA que presenciou a conversa disse ao GLOBO que a resposta de Redrado, na ocasião, foi enfática:

- Terão de passar por cima do meu cadáver.

Segundo juristas locais, ambas as resoluções da juíza poderão ser alvo de apelações do governo nos próximos dias. Paralelamente, a oposição pretende realizar reuniões extraordinárias no Congresso - encarregado, pela Carta Orgânica do BCRA, de designar e destituir o presidente do banco - para discutir os decretos de Cristina Kirchner. A ofensiva é liderada pelo vice-presidente e presidente do Senado, Julio Cobos, que se afastou do casal em 2008, ao votar contra o projeto que modificava os tributos sobre as exportações de grãos. Desde dezembro, a oposição controla o Congresso.

Nas horas em que ficou à frente do BCRA, o vice de Redrado, Miguel Ángel Pesce, abriu uma conta no exterior para depositar os US$6,6 bilhões das reservas. Mas estes não chegaram a ser transferidos.