Título: Rio tem seu 1º plano para combater enchentes
Autor: Galdo, Rafael; Damasceno, Natanael
Fonte: O Globo, 08/01/2010, Rio, p. 16
Secretaria de Obras vai investir R$ 10,5 milhões em drenagem, tema da semana em site de debates do GLOBO
A tragédia que ocorreu na noite de ano-novo em Angra dos Reis é um retrato extremo, mas o regime de chuvas torrenciais, alguns desabamentos e muitos alagamentos é velho conhecido de fluminenses e cariocas em todos os verões. Só em dezembro, de acordo com o sistema de alerta meteorológico da prefeitura (Alerta-Rio), a chuva que desabou sobre a capital do estado foi três vezes maior do que a média histórica registrada no período, que é de 157mm. Com mais água do que de costume, os estragos provocados pelas enxurradas ficam ainda maiores, já que o sistema de drenagem de águas pluviais do município segue, como sempre, sobrecarregado de lixo e entulho.
É o que mostram as dezenas de flagrantes fotográficos enviados por leitores para o Eu-Repórter, seção de jornalismo participativo do site do GLOBO, e para o site da campanha ¿Nós e você.
Já são dois gritando ¿ (www.oglobo.com.br/doisgritando), onde os participantes elegeram o assunto como o tema desta semana.
Plano será o primeiro para drenagem de águas pluviais Para tentar minimizar as enchentes ainda neste verão, a Secretaria municipal de Obras decidiu investir R$ 10,5 milhões na criação de um plano diretor para orientar as ações da prefeitura no manejo de águas pluviais.
Financiado com recursos do Fundo de Garantia, pela Caixa Econômica Federal, será o primeiro plano diretor para drenagem de águas pluviais da história da cidade. Estão previstos o cadastramento de 900km de rede de escoamento, inspeção de 1.500km de rios e galerias subterrâneas e criação de 40 estações hidrológicas, que medirão o nível das precipitações e a vazão dos rios.
¿ A partir das conclusões, a RioAacute;guas apresentará alternativas para melhorar as condições de drenagem em 230 pontos vulneráveis a alagamentos, já mapeados ¿ afirma o subsecretário municipal de Obras, Alexandre Pinto.
Enquanto isso, a população pena com os efeitos de chuvas mais intensas do que de costume.
O leitor Antonio Carpuma Santos registrou danos provocados pelo temporal de 28 de dezembro, em Vila Valqueire: ¿Sempre que chove, os moradores da Rua Camaratuba e arredores sofrem com o transbordamento do canal que cruza a Avenida Jambeiro. Dessa vez, a água invadiu casas e a correnteza deixou à deriva os carros que estavam estacionados¿.
A situação em Parada de Lucas não foi diferente, como mostram as imagens enviadas pela engenheira química Maria Malgorzata Wojnowski: ¿Ficamos ilhados quando chove forte e a água demora até cinco horas para baixar. Nessas ocasiões, os riscos de doença são enormes porque algumas crianças desavisadas resolvem brincar no meio das poças¿.
Os leitores que opinam no site se dividem entre os que culpam a prefeitura e os que responsabilizam quem joga lixo na rua. ¿Algumas pessoas morreram e outras perderam tudo por causa das tempestades. Em vez de realizar as obras necessárias para evitar a tragédia que se repete, o governo espera o momento das eleições para prestar pequenos favores à população, em troca de votos¿, diz a psicóloga Cristiane Malatesta Campos de Carvalho, moradora da Penha Circular. ¿Entra governo, sai governo, e os problemas do Rio permanecem os mesmos.
Quando será que teremos retorno positivo dos impostos pagos?¿, indaga a leitora Raquel Leal. O comerciante Jansen Torres, morador de Honório Gurgel, critica a falta de consciência ambiental da população: ¿Não culpo só os políticos pelas enchentes, não são eles que jogam lixo no chão e até móveis quebrados, sofás e geladeiras velhas nos rios e valões. O problema com as inundações só vai acabar quando a própria sociedade mudar sua atitude¿.
Além disso, a maior parte das galerias pluviais é muito antiga e já não consegue atender às necessidades de uma cidade que cresceu desordenadamente.
¿ A rede de drenagem é subdimensionada porque não foi projetada para receber a água que recebe hoje. Não só por causa das chuvas em excesso, mas por conta do desmatamento e das construções irregulares.
O aguaceiro que antes era retido pela vegetação nativa hoje escorre direto para os bueiros e galerias ¿ explica o engenheiro civil Flávio Mascarenhas, coordenador do Laboratório de Hidráulica Computacional da Coppe/ UFRJ e especialista em recursos hídricos.
O subsecretário municipal de Obras afirma que a prefeitura intensificou, nos últimos meses, a limpeza e desobstrução dos 421 mil bueiros e galerias pluviais subterrâneas, com a aquisição de novos equipamentos.
Segundo dados oficiais, 411km de tubulações de escoamento de água foram limpos na capital em 2009.