Título: Polícia do Senado fica fora da investigação
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 06/06/2009, Política, p. 10

MPF alegou que denúncias ¿ultrapassam o âmbito do Senado¿ A Polícia Federal conduzirá sozinha as investigações sobre supostas irregularidades em empréstimos consignados, envolvendo o ex-diretor de recursos humanos do Senado João Carlos Zoghbi. Sob a justificativa de que as denúncias ¿ultrapassam o âmbito do Senado¿, o Ministério Público Federal rejeitou o pedido da Polícia do Senado para prorrogar o inquérito que analisava as denúncias contra Zoghbi.

A investigação ficará sob a responsabilidade do delegado Gustavo Buque, que já presidia o inquérito acerca da denúncia de que o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia teria chefiado um suposto esquema de desvio de recursos públicos em contratos terceirizados do Senado. O delegado terá, agora, que decidir se mantém ou não os indiciamentos da Polícia do Senado.

Na Polícia Federal, predomina a impressão de que o Senado não quer a PF nas investigações. A corporação abriu um inquérito há 20 dias, mas até agora não recebeu nenhum dos documentos solicitados à Casa para iniciar a investigação, que vai apurar crimes de lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva.

A Polícia Federal requisitou todos os contratos de empréstimos consignados feitos pelo Senado nos últimos cinco anos. Inicialmente os pedidos foram feitos à presidência da Casa, por reiteradas vezes, mas a PF não obteve sucesso. Em seguida, novas requisições foram feitas ao senador Romeu Tuma (PTB-SP), que é corregedor do Senado. Por ter estreitas relações com a corporação, onde chegou a ser diretor-geral, a PF acreditava que Tuma atenderia os pedidos, o que também não aconteceu.

Até agora, a PF recebeu apenas os depoimentos tomados pela Polícia Legislativa do Senado, mas que em nada ajudarão nas apurações. ¿Precisamos ter os contratos dos empréstimos para iniciarmos os trabalhos¿, afirma um dos investigadores destacados para atuar no caso. ¿Antes de tudo, temos que saber se há alguma irregularidade para, depois, iniciarmos a fase de depoimentos¿, acrescenta a fonte, ressaltando que o material enviado pelo Senado até agora chegou por interferência do Ministério Público Federal.

O inquérito aberto pela PF foi requisitado pela Procuradoria da República no Distrito Federal, que pediu a apuração de supostas irregularidades em empréstimos consignados. As investigações envolverão pelo menos 40 instituições financeiras, e não apenas o banco Cruzeiro do Sul, com o qual Zoghbi fez negociações consideradas suspeitas. A Polícia Federal também pretende reabrir parte da Operação Mão de Obra, realizada em 2006, cujo alvo eram empresas terceirizadas que prestavam serviços ao Senado.

O inquérito da PF vai investigar ainda as denúncias de uma empresa de Zoghbi que teria recebido R$ 2,3 milhões do banco Cruzeiro do Sul como comissão por intermediar empréstimos. A firma teria sido aberta pelo ex-diretor do Senado em nome de sua babá, que ainda reside em sua casa. No fim do mês passado, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), suspendeu os contratos da instituição com a Casa, até que investigações sejam concluídas. O banco nega as irregularidades.

Porém, passados 20 dias de sua instauração, o inquérito da PF permanece parado. Buque, responsável pelas investigações, deverá pedir um novo prazo para concluir seu trabalho, já que terá apenas 10 dias para iniciar as apurações. O inquérito tem 30 dias para ser concluído, mas pode ser prorrogado pelo mesmo período.