Título: Amorim sobre caças: Às vezes, o barato sai caro
Autor: Jungblut, Cristiane; Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 08/01/2010, O País, p. 12

Jobim recebe relatório da Aeronáutica com notas mais altas para aviões suecos, e governo pode adiar decisão

PARIS e BRASÍLIA. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, voltou a dizer ontem, em Paris, que será política a decisão final sobre a compra dos 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB). Numa referência à diferença de preço entre os jatos Rafale, da francesa Dassault, e Gripen, da sueca Saab, Amorim afirmou que, ¿muitas vezes, o barato sai caro¿. A hora voada do Rafale custa US$ 14 mil, e a do Gripen, US$ 4 mil.

¿ Caberá ao presidente, que lidera o país politicamente, tomar a decisão, levando em conta todos os dados, técnicos e outros.

Às vezes os técnicos dão uma impressão que vai num sentido, e muitas vezes o barato sai caro. É claro que os dados técnicos também são importantes, mas outras considerações também são ¿ disse Amorim, após um simpósio de economia, que contou com o presidente francês, Nicolas Sarkozy.

Em Brasília, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, recebeu ontem o relatório definitivo do Comando da Aeronáutica sobre a concorrência do programa FX-2.

No texto, a FAB dá notas para o desempenho dos caças em até cinco itens diferentes. Segundo integrantes do Ministério da Defesa, o relatório tem cerca de 390 páginas. Embora não indique que o governo deve comprar o sueco Gripen, a FAB deu no relatório uma pontuação mais alta à aeronave.

O preferido do governo, o francês Rafale, acabou perdendo na avaliação do preço, mais elevado em relação ao concorrente sueco, um avião monomotor que ainda está em desenvolvimento.

Também participa da disputa o caça americano F-18.

O texto, que não teria sido alterado, faz ponderações sobre cada caça e não um ranking hierárquico.

A classificação pode ser deduzida a partir da pontuação dos concorrentes. Ao analisar as propostas dos três, a FAB atribuiu pesos ou médias a cada um dos itens avaliados, como custos e transferência de tecnologia.

A interlocutores, Jobim informou que lerá o documento nos próximos três dias. Especulase que o ministro ainda pode pedir mais informações à FAB.

A avaliação entre aliados do governo e pessoas próximas a Jobim é a de que politicamente o presidente Lula já tomou a decisão de escolher o Rafale. O problema agora seria compatibilizar isso com a decisão técnica da FAB. Ontem, diante da pressão causada pelo relatório, o Planalto passou a cogitar postergar a escolha para diminuir o desgaste.

A Aeronáutica se preocupa com a desmoralização na comunidade internacional, pela falta de capacidade de influenciar na compra de sua própria frota.

Reportagens de jornais franceses afirmam que o vazamento do relatório ameaça criar atrito entre Lula e os militares. O ¿Les Echos¿ usou o título ¿Braço de ferro entre Lula e os militares¿ na primeira página. O ¿Le Monde¿ afirmou que a polêmica é mais um ponto de conflito entre Lula e os militares, que já haviam protestado contra a criação da Comissão da Verdade para apurar crimes da ditadura