Título: Governo ainda não abriu o cofre
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 06/06/2009, Política, p. 11

Parlamentares, principalmente da base aliada, reclamam que o Palácio do Planalto está segurando emendas garantidas no Orçamento deste ano, a maioria destinada a obras nos redutos eleitorais

O governo está longe de cumprir as promessas financeiras com os parlamentares. Pouco menos de 0,5% de dinheiro sugerido pelos parlamentares no Orçamento deste ano foi atrelado a algum projeto em andamento nos municípios. O acordado era comprometer (empenhar, no jargão da Esplanada dos Ministérios) R$ 1,6 bilhão a partir de abril, mas apenas R$ 7,7 milhões tiveram sinal verde.

As bancadas do PTB, PR e PMDB demonstraram as maiores insatisfações nas últimas semanas. A crise financeira e incertezas quanto à arrecadação tributária emergiram como argumento para justificar o dinheiro preso. ¿A execução das emendas está bem lenta. A bancada começou a reclamar, mas nós explicamos que era a crise o problema¿, disse o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO). ¿Nós sabemos que o governo precisa fazer caixa. Ele segurou com razão¿, acrescentou.

A palavra conciliadora do líder não é a mesma de outros deputados. ¿O governo só segura porque está tocando suas obras¿, disse um enfurecido peemedebista. Um colega do PR emendou: ¿Não é o governo que vai nas bases, nos seus eleitores e tem que explicar por que a obra fundamental do município parou¿.

Das emendas individuais apresentadas pelos deputados no Orçamento deste ano, a maior parte dos empenhos (promessa de pagamento) está localizada na oposição. O DEM conseguiu 22% do total de empenhos, ou R$ 1,75 milhão, e o PSDB, R$ 650 mil. Deputados e senadores do PDT são os que mais conseguiram comprometer o dinheiro do orçamento com projetos, R$ 2,2 milhões, ou 28%. Tudo ainda no papel.

Ameaça Mas é o DEM quem registrou o maior índice de dinheiro efetivamente liberado. Foram pagos para parlamentares do partido R$ 1,25 milhão, ou 92,6% do total. A outra legenda foi o PTB, com R$ 100 mil, cujo beneficiado foi o senador Romeu Tuma (SP). O pagamento ocorreu só em maio. O senador petebista foi um dos que ameaçaram criar a CPI da Petrobras. O governo conseguiu inviabilizar a manobra, mas o senador petebista endossou, mesmo assim, a iniciativa do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que acabou vingando.

Com a secura no dinheiro do Orçamento 2009, restou ao governo buscar verba sobrando dos últimos três anos para alimentar a fome dos parlamentares. Este ano, foram liberados R$ 8,7 milhões para emendas individuais de 2006; R$ 544 milhões, de 2007; e R$ 84,5 milhões, de 2008. Desse dinheiro, os partidos da base aliada foram os maiores beneficiados, com R$ 612 milhões do total dos três anos. DEM, PPS, PSDB e PSol receberam cerca de R$ 25,6 milhões.