Título: Bem endereçado
Autor:
Fonte: O Globo, 05/02/2010, Opinião, p. 6
O governo espera licitar até abril a concessão da futura hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, que será a usina exclusivamente brasileira com maior potencial de geração de eletricidade (mais de 11 mil megawatts) ¿ portanto, exceto Itaipu. Neste campo da energia, o país está sempre correndo contra o relógio, pois, como se constatou esta semana, o consumo de eletricidade no Brasil tende a se aproximar da capacidade de geração. A economia voltou a crescer e, ainda que a um ritmo moderado, já provocou recuperação do consumo de energia na indústria.
A isso vem se somando um consumo residencial recorde, decorrente do calor sufocante que persiste em grande parte do país, levando mais pessoas a usar intensamente aparelhos de ar-condicionado e ventilação.
Esta semana, o consumo de eletricidade ultrapassou 70 mil megawatts no meio da tarde. Se todo o sistema elétrico interligado operasse a plena capacidade, o Brasil poderia gerar aproximadamente 105 mil megawatts. Mas essa é uma hipótese apenas teórica, já que não considera os equipamentos em manutenção, o volume de água armazenado nos reservatórios, e os combustíveis disponíveis para termoelétricas.
Assim, pode-se dizer que o consumo tem beirado a capacidade efetiva de geração, conforme a disponibilidades média dos itens assinalados.
Para ter uma margem de segurança adequada, e a custos que o país possa suportar, o setor elétrico precisará de novas hidrelétricas, e muitas, nos próximos anos. Tanto melhor se forem construídas usinas com o custo-benefício de Belo Monte. Nessa corrida contra o relógio, vários obstáculos precisam ser superados.
A fase do licenciamento ambiental prévio foi uma delas, e agora já se observa que opositores de sempre tentam obstruir com delongas judiciais a licitação de Belo Monte.
Entre esses opositores habituais estão procuradores do Ministério Público, que se consideram os únicos verdadeiramente preocupados com a questão ambiental.
Faz muito bem, então, a Advocacia Geral da União ao alertar o Ministério Público sobre sua intenção de processar, por improbidade administrativa, procuradores que exorbitarem de suas funções, usando de prerrogativas para adiar Belo Monte.